Mateus Maciel | 27 de novembro, 2017
É comum escutar muitos dos brasileiros afirmarem que o governo de Juscelino Kubitschek foi um período áureo, conduzido por um presidente honesto que, além de construir Brasília, trouxe prosperidade social e econômica para o país. Na escola, também é comum ouvir os professores defendendo o governo JK, “por mais que este tenha aberto o país para o capital estrangeiro”.
Se analisarmos bem alguns aspectos econômicos do governo JK é possível entender o motivo pelo qual o estado não deve interferir na economia. O Plano de Metas que faria com que o Brasil crescesse 50 anos em apenas 5 é um dos exemplos de como as boas intenções podem levar a resultados desastrosos. É inegável que o Plano de JK trouxe inúmeros “benéficos” para o Brasil, durante o seu governo, tais como o maior salário mínimo da história do país (como se isso fosse bom), grande crescimento econômico (crescimento médio de 8% ao ano) e a ampliação do acesso a bens de consumo, como televisores, carros e geladeiras.
Entretanto, tais conquistas foram alcançadas por meio do crescimento de órgãos públicos, gastos públicos elevados sustentados por empréstimos internacionais e, posteriormente, emissão de moeda, que acabaram por elevar a dívida pública e a inflação. Falarei desses e de outros pontos a seguir.
O então Ministro da Fazenda José Alkimin tratou de controlar o processo de emissão de moeda através da restrição de crédito ao setor privado. Contudo, Alkimin tratou de disponibilizar recursos para os setores considerados estratégicos para o governo. Dessa forma, o estado possuía recursos suficientes para tocar o ambicioso plano.
Após a vinda de uma missão do Fundo Monetário Internacional para analisar a capacidade de o país seguir pagando a dívida que estava criando com o fundo, o grupo de analistas chegou a conclusão de que seria necessário mudar radicalmente os rumos da política econômica (inflacionária) que estava em vigor. Com isso, Kubitschek tratou de fazer alterações no Ministério da Fazenda, nomeando Lucas Lopes como ministro e Roberto Campos diretor do BNDE.
Lopes desenvolveu um plano para estabilizar o processo inflacionário, denominado Programa de Estabilização Monetária (PEM). Dessa forma, o fim de subsídios e linhas de crédito ao setor industrial por parte do Banco do Brasil e aumento de impostos foram implementados.
Por mais que a Fazenda estivesse tentando conter a onda inflacionária, o governo não seguia a mesma política. Em 1959, Kubitschek autorizou um aumento de 30% no salário mínimo e ainda continuou concedendo subsídios. O então presidente do Banco do Brasil, Sebastião de Almeida, também não concordou com a política de Lopes e continuou concedendo crédito para o setor industrial.
Com o tempo, a política para inglês ver que era praticada por Lucas Lopes teve fim, uma vez que JK rompeu com o FMI. Como consequência, Lopes e Campos foram exonerados de seus cargos, o que deu passe livre para o aumento da política inflacionária por meio da emissão de moeda.
No setor público, a da criação das Superintendências de Desenvolvimento (órgãos ineficientes e profundamente corruptos) e a construção de Brasília (que custou 1 bilhão de dólares) só tornaram os gastos do governo JK ainda maiores.
A abertura econômica promovida pelo governou é um ponto positivo, por mais que a participação estatal do Plano de Metas tenha sido muito grande. Empresas como Ford, Volkswagen, Chrysler e várias outras se estabeleceram aqui, gerando empregos e proporcionando a população o acesso produtos banais, nos EUA e Europa Ocidental.
Se o nacionalismo não imperasse no Brasil, uma abertura econômica geral teria promovido um desenvolvimento econômico sustentável e muito maior a longo prazo, sem que fosse necessário inflacionar a moeda e queimar o dinheiro público. Os gargalos logísticos que o Plano de Metas tentou resolver foram “solucionados” através de um projeto rodoviário, que não atende as necessidade de um país com dimensões continentais. Tudo isso para atender aos interesses das montadoras que estavam se instalando aqui, assim como para desenvolver a Petrobras.
O resultado da grande festa promovida pelo governo JK pode ser visto no gráfico abaixo: grande crescimento econômico, elevação do salário mínimo e inflação crescente. Um keynesiano analisaria essa parte do gráfico e não veria nenhum problema. Entretanto, não somos bobos e somos capazes de olhar para frente. Durante o governo de Jânio Quadros/João Goulart é possível notar uma queda acentuada no crescimento do PIB, a estabilização do salário mínimo e um grande salto na inflação (que corroí o poder de compra da população). Ou seja, é muito fácil dar rodadas grátis de bebidas, quando a ressaca chega apenas no mandato do outro presidente.
Espero que, com esses dados, eu tenha conseguido convencer os leitores de que as conquistas do governo JK foram uma doce ilusão, uma vez que a “herança maldita” deixada por ele foi responsável pelo caos econômico experimentado pelos brasileiros nos anos anteriores ao golpe militar.
Mateus Maciel foi colaborador do Clube Farroupilha, grupo membro do Programa de Grupos do Students For Liberty Brasil.
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