Lucas Nutels | 23 de outubro, 2013
“Um trabalho filosófico sério e bom poderia ser escrito inteiramente composto de piadas.” ~ Ludwig Wittgenstein
Cansando de ver a expressão “empreendedorismo” sendo puxada para o saco das palavras sem significados, resolvi provocar com um pouco de humor. Já saturou ver uma das expressões que mais rimam com a ideia de liberdade sendo utilizada em prol dos seus detratores. Empreendedorismo é mais que uma massa amorfa e passível de ser encaixada em qualquer padrão. Resgatemos a expressão antes que se torne mais uma weasel word. Segue alguns péssimos exemplos já identificados:
Aquele que vem com uma lista de livros, frases do Steve Jobs e uma seleção de franquias até R$ 50.000,00. A atitude e o estado de alerta ficam em segundo lugar, na verdade o que conta é saber onde fica a junta comercial, a diferença entre pessoa física e jurídica e ser enquadrado no SIMPLES. O empreendedor de cartilha gosta muito de assistir palestras sobre o tema, pois elas dão direito a uma folga no trabalho.
Aquele que pode ser comparado com a situação do Pinóquio dizendo que seu nariz vai crescer. É como jogar futebol com um coco, tudo parece bem, o coco vai rolar, mas sempre que uma jogada mais ousada é tentada alguém sai machucado. Já que a burocracia concebe o erro como algo deletério, pensa-se que é só criar uma lei dizendo que vai dar certo. Apesar da ausência de propriedade privada, tornando as decisões menos racionais, e da ausência de uma contabilidade de custos, remetendo a um problema de cálculo econômico, o setor público segue com seu empreendedorismo de risco zero.
Aquele que permite a exploração econômica pelo setor privado, mas, por acreditar que o consumidor (você) é incapaz de tomar boas decisões, resolve criar monopólios e oligopólios. Também é conhecido como “quase bom” ou “melhor que nada”.
Aquele que é protagonizado por pseudo-empresários bem relacionados com o governo. Utilizam dinheiro público por saberem que o povo é um prestamista muito leniente, pois são dominados pelo aparato estatal, que de tempos em tempos dá ao povo a incrível oportunidade de escolher quem vai dominá-los. O ‘empreendedor… só que não’ sabe que propaganda é a alma do negócio e age em nome do desenvolvimento nacional.
Aquele em que se criam mecanismos para roubar a propriedade alheia e prejudicar o próximo. Embora corriqueiramente seja uma prática derivada do excesso de poder, ocorre também em uma escala menor. Pode ir do roubo de refrigerante no fast food até mesmo a esquemas pirâmides envolvendo produtos fictícios.
Eis aí alguns exemplos tão ruins que dói até relatar. Felizmente há também o florescimento de movimentos benéficos por outra via. O redundante empreendedorismo social, que seria basicamente a intersecção entre filantropia e empresa, vem trazendo um pouco de esperança para quem acredita no empreendedorismo de verdade.
Existe hoje um excelente trabalho de catalogação sendo feito pelo portal Hypeness e que traz diversos negócios sendo desenvolvidos com a ideia de bens e serviços fornecidos gratuitamente, foco em populações vulneráveis, acessibilidade, crowdfunding e etc. Um ótimo lugar para perceber que inovação e criatividade podem ajudar a melhorar o mundo sem coagir ninguém.
Resumindo, existem dois jeitos de fazer as coisas: o certo e o errado. Digamos que ao se deparar com uma demanda social haja a saída do GOVERNO de um lado, e a do EMPREENDEDORISMO do outro.
a) GOVERNO: “Em nome da justiça social iremos cobrar impostos e devolver esses impostos em bens e serviços para a população. Aqueles que se sentirem insatisfeitos com esses bens e serviços não poderão cancelar o contrato, mas poderão de tempos em tempos escolher os governantes que irão votar as políticas mais adequadas”. (Coercitivo)
b) EMPREENDEDORISMO: “Nós empreendedores estamos aqui para servi-los. Em nome do lucro e do nossa realização pessoal competiremos por sua preferência. Seu dinheiro é o voto que precisamos para eleger nossos negócios. Aqueles que forem eficientes sobreviveram no mercado”. (Voluntário)
Qual a diferença entre ser um consumidor e ser um cidadão? Simples! É que sendo consumidor você não tem um intermediário, você decide diretamente com quem está fornecendo o bem ou serviço, aumentando imensamente o seu poder de barganha.
No empreendedorismo seu trabalho/dinheiro NÃO pode ser tomado, pois ele tem que ser conquistado diariamente, tal como se fosse uma democracia instantânea. Todos os dias indivíduos votando quais são os melhores produtos e produtores votando nas melhores formas de produzir. Por que esperar de tempos em tempos em vez de escolher diariamente? E se decidirem que a população terá de aceitar aqueles bens e serviços sem poder reclamar? Você prefere ser um consumidor ou um cidadão?
Que o empreendedorismo faz a vida de todo mundo melhor é fácil perceber, o difícil é fazer todo mundo valorizá-lo diariamente. Na próxima vez que ver alguém tentando conquistar seu dinheiro voluntariamente aprecie, pois outro que trabalhasse para o GOVERNO poderia legalmente estar te forçando a pagar. Lembre que algumas ideias, até mesmo bem inocentes, escondem uma arma. Lembre disso e talvez até perceba o que Bastiat já havia há muito tempo percebido consternado:
“Pois é, caro leitor. Eu não tenho a honra de conhecê-lo, mas aposto dez contra um que há seis meses você inventa utopias e, se você as inventa, aposto dez contra um que encarrega o estado de realizá-las.” – Frédéric Bastiat.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].