Luan Sperandio | 29 de setembro, 2017
Christian Lohbauer é mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Com seus comentários e análises políticas, sua influência tem crescido nas redes sociais, em que já tem mais de 130 mil seguidores. Lohbauer. Filiado ao Partido Novo, seu nome tem sido fortemente cogitado para disputar em 2018 uma cadeira em Brasília como parlamentar pelo estado de São Paulo.
Ele estará em São Paulo no dia 14 de outubro para participar da LibertyCon Brasil 2017 no painel “Perspectivas para o Brasil” com o também cientista político Fabio Ostermann (Livres-RS). Você pode comprar seu ingresso para o evento clicando aqui.
Nesta entrevista ele avalia que Michel Temer não sofrerá impeachment, que Lula, Ciro, Bolsonaro e Marina não possuem chances para 2018 e fala suas perspectivas para uma reforma política ideal.
SFLB: Recentemente você afirmou que o Brasil escolherá um presidente de centro-direita em 2018. Quais elementos o levam a acreditar nisso e em qual nome você apostaria que tem maiores chances de conseguir derrotar a esquerda?
CL: Acredito em um esgotamento geral das candidaturas populistas do tipo Lula, Ciro ou Bolsonaro. E acho que o perfil de Marina [Silva] perdeu o momento. Acredito que o núcleo em torno da candidatura Alckmin, Dória ou outro nome ainda pouco conhecido devem levar a presidência em 2018. As pessoas estão desiludidas com a política, cansadas de instabilidade.
O eleitor médio brasileiro é conservador e quer ter pelo menos a sensação de estabilidade, trabalho disponível e renda para consumo. E permanecem as preocupações crônicas com a saúde e a educação, agora de forma mais aguda em função da herança de desemprego de milhões de brasileiros deixada pelas políticas públicas infelizes do governo anterior.
SFLB: Acredita que Temer conseguirá escapar de um impeachment?
CL: Sim. Apesar de tudo e de todas as evidências contra o presidente, um processo de impeachment tem que ser autorizado pelo Congresso e este não está disposto a abrir mais espaço para o desgaste do impeachment quando faltam menos de 400 dias para as eleições gerais.
SFLB: Falando no Congresso, por que é tão difícil fazer reformas no Brasil?
CL: Porque o Brasil é o país do corporativismo mais forte, violento, e desavergonhado do planeta. Em todas as esferas da vida nacional há sempre um pequeno grupo usufruindo do “bem bom” enquanto a maioria está prejudicada. Durante décadas grupos organizados foram garantindo na lei privilégios que os outros não dispõe. O caso da previdência é a fora mais pronta e acabada do absurdo corporativista do Brasil. quando um milhão em 200 milhões de brasileiros levam mais de 10% de todos os impostos arrecadados pela federação com seus vencimentos de aposentadoria e pensão podemos ter uma noção da indecência dos privilégios no Brasil.
Essa classe de príncipes está nas nossas casas, no almoço de domingo. E o rompimento dessa realidade deve passar pela consciência das novas gerações em debate dentro de casa.
SFLB: Você é a favor do fim do fundo partidário. Empresário doa para político por opção ideológica ou isso é investimento para a famosa política do “toma lá, dá cá?”
CL: Qualquer um que disponha de seus recursos privados para uma agremiação política está contribuindo para que aquela ideologia se imponha sobre as outras e como consequência investindo para que sua vida individual, seu trabalho, sua empresa e as políticas públicas sejam alinhadas com sua visão de mundo. Assim é que deveria funcionar. Na prática ainda há um “toma lá da cá” descarado que, ao meu ver, começará a mudar em 2018 tanto pelas mudança das regras do jogo como pela percepção media do eleitor.
SFLB: Por que os brasileiros não foram para as ruas pedirem impeachment de Temer como fizeram para Dilma?
CL: Acho que há uma mistura de cansaço e desilusão com a percepção de que o período vai terminar logo, além da constatação de que pelo menos algo em relação as reformas estruturantes começou a ser feito. O governo Temer, independente de sua condição ética, fez mais pelas mudanças necessárias urgentes no Brasil do que o governo Dilma fez em 5 anos. Isso é um fato.
SFLB: Em sua concepção, como seria uma reforma política ideal para o sistema brasileiro?
CL: Uma reforma que estabelecesse o fim do fundo partidário, a volta do financiamento de campanha por pessoas jurídicas com limites de contribuição estabelecidos com critérios transparentes e disponíveis a todos. O sistema eleitoral deveria ser o distrital misto que não tem essa complexidade toda de se fazer como se costuma vender por ai. E mais: fidelidade partidária no mandado. Trocou, perde o mandato como é em qualquer democracia avançada. Cláusula de barreira com critério transparente. E finalmente, possibilidade simples e fácil de se criar partidos.
Não há nenhum problema em existir centenas de partidos. Eles tem é que ser eficientes e convincentes para conseguir seguidores. Simples assim. No Brasil, a sanha de controlar tudo criou um sistema em que 94% das pessoas não se identifica com partido nenhum e faz-se um verdadeiro bloqueio para que novos partidos possam se formar. É o extremo da não representação. Acabando com o recurso público deixa de ser um bom negócio criar um partido político.
SFLB: O que explica Lula, já condenado por corrupção passiva e réu em diversos outros processos ainda estar pontuando tão bem nas pesquisas para 2018?
Lula acabou. As pesquisas registram o que as pessoas lembram de primeira. O sujeito concorreu 4 vezes a presidência, governou 8 anos e reelegeu a sucessora que governou mais 5 anos com ele nos bastidores. São quase 30 anos com Lula no noticiário e quase 15 no governo. Evidente que só dá Lula.
Mas quando a eleição começar para valer as pessoas acionam o candidato as dificuldades do seu dia-a-dia. A corrupção do Partido dos Trabalhadores e seus métodos destruíram Lula, o PT e quase destruíram o Brasil. Quase.
SFLB: Quais suas principais referências intelectuais?
CL: No Brasil gosto do pensamento do professor Bolivar Lamounier. Lá fora acompanho as políticas públicas do conservadorismo democrático alemão que são para mim as referências de como se deve praticar e aplicar políticas públicas.
SFLB: O Brasil tem solução?
Tem. Mas não há mais tempo para mediocridade. Em 2018 será absolutamente vital uma mudança de patamar. Será necessário desaparelhar, desestatizar, desburocratizar, liberalizar. É necessário deixar trabalhar os brasileiros que querem trabalhar. São muitos, mas estão exaustos de lidar com os iluminados do dirigismo. O colapso chegou e vai levar o Brasil para o caminho que já deveria ter tomado há décadas.
Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].