O mercado é para os pobres

O mercado é para os pobres

Luiz Renato Oliveira Périco | 10 de novembro, 2017

Pixabay

É comum ouvirmos que o mercado é excludente, imoral, “selvagem”, e que a defesa do mercado é a defesa dos ricos, das grandes corporações e dos bancos. Embora seja o senso comum, isso simplesmente não corresponde aos fatos.
Pensemos em duas classes de bens e serviços, uma dos que são fornecidos pelo Estado ou por suas concessionárias, com monopólio, e outro grupo de bens e serviços que são livremente fornecidos no mercado. Não precisa muito esforço pra perceber que os pobres têm mais e melhor acesso aos produtos do segundo grupo do que do primeiro. Assim noticiou a Folha, em 2013:
Casas com TV, DVD, computador, carro e moto, mas sem esgoto e coleta de lixo. Dados do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, mostram que, enquanto no país avança a presença nas residências de bens duráveis, como eletrônicos, boas parte dos Estados fica paralisada – ou até regride – em serviços como água, esgoto e coleta de lixo. De 2011 para 2012, 14 Estados tiveram redução no percentual de moradias com esses serviços (em 11 a rede não teve nenhum avanço); apenas dois recuaram em bens duráveis. Na média nacional, houve crescimento ou estabilidade, dependendo do item.
Mas porque as pessoas pobres têm mais acesso a mercadorias fornecidas pela lógica “selvagem” do mercado do que a direitos garantidos pelo Estado?

Um empresário trabalha e busca seu próprio lucro, isso é certo. Mas, para conseguir o maior lucro possível, ele precisa satisfazer o maior número de clientes possível pelo menor preço possível, e isso em um ambiente em que outros empresários querem a mesma coisa. Essa competição entre empresas faz com que elas forneçam produtos cada vez melhores por preços cada vez menores. Como resultado, a busca de lucro e a competição faz com que bens e serviços se tornem cada vez mais acessíveis àqueles que menos podem pagar por eles.

Como diz Mises:

O capitalismo não é simplesmente produção em massa, mas sim produção em massa para satisfazer as necessidades das massas. As artes e os trabalhos manuais dos velhos tempos eram voltados quase que exclusivamente para os desejos dos abastados. E então surgiram as fábricas e começou-se a produzir bens baratos para a multidão. Todas as fábricas primitivas foram concebidas para servir às massas, a mesma camada social que trabalhava nas fábricas. Elas serviam às massas tanto de forma direta quanto indireta: de forma direta quando lhes supriam produtos diretamente, e de forma indireta quando exportavam seus produtos, o que possibilitava que bens e matérias-primas estrangeiros pudessem ser importados. Este princípio de distribuição e comercialização de mercadorias foi a característica inconfundível do capitalismo primitivo, assim como é do capitalismo moderno.

Os empregados são eles próprios os consumidores da maior parte de todos os bens produzidos em uma economia. Eles são os consumidores soberanos que “sempre têm razão”. Sua decisão de consumir ou de se abster de consumir determina o que deve ser produzido, em qual quantidade, e com que qualidade. Ao consumirem aquilo que mais lhe convém, eles determinam quais empresas obtêm lucros e quais sofrem prejuízos. Aquelas que lucram expandem suas atividades e aquelas que sofrem prejuízos contraem suas atividades. Desta forma, as massas, na condição de consumidores no mercado, estão continuamente retirando o controle dos fatores de produção das mãos dos empreendedores menos capazes e transferindo-o para as mãos daqueles empreendedores que são mais bem sucedidos em satisfazer seus desejos.

Já os governantes não precisam se preocupar com a satisfação do contribuinte, exceto em época de eleição, pois sua permanência no governo não depende de ele cumprir promessas de campanha. O financiamento do Estado não depende da satisfação das necessidades da população, pois impostos são tomados dela para sustentá-lo. Com a água e o esgota chegando ou não, o dinheiro entra no cofre estatal.

Uma empresa depende da satisfação de seus clientes para continuarem existindo; um Estado, não. Empresas precisam convencer seus clientes a lhe darem dinheiro; um Estado, não. Uma empresa pode perder um cliente se não oferecer seu produto com preço e qualidade que satisfaçam o cliente; um Estado, não. Empresários têm muitos motivos para satisfazerem as necessidades de seus clientes; governantes, não.

Por isso, quando os liberais defendem o livre mercado, eles não estão agindo em defesa de ricos e poderosos, mas das classes média e baixa, já que o mercado é a forma mais eficiente de acesso a serviços e produtos para a satisfação das necessidades das pessoas – incluindo o fornecimento estatal.


Luiz Renato Oliveira Périco foi coordenador local do Students For Liberty Brasil (SFLB) em São Paulo. 

Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, basta submeter o seu artigo neste formulário: http://studentsforliberty.org/blog/Enviar

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