Carlos Góes |22 de abril de 2017
Foto por Vladislav Reshetnyak.
[Publicado originalmente no Instituto Mercado Popular]
Esse texto recomenda quatro artigos e livros para que você comece a entender a extensa obra de Milton Friedman. Os textos são resumidos e, quando disponíveis, colocamos alguns links para que você possa ter acesso aos textos originais quando disponíveis pela rede.
Este é um dos livros de Friedman para o público geral – e não para economistas. Mas isso não o impede de tratar de temas profundos e controversos. O livro começa relatando como a liberdade econômica e a liberdade política são duas faces da mesma moeda. O exemplo que Friedman usa é: imagine que você vive em um país onde em tese há liberdade de manifestação, mas onde tudo é do governo. Você pode protestar contra o governo, mas você teria que convencer o gerente da gráfica do governo a publicar seus panfletos, o chefe da seção de locação de caminhões do governo a lhe emprestar um carro de som e o diretor da rádio do governo a divulgar sua marcha contra o governo…No fim das contas, você teria que convencer diversas partes do governo a deixar que você tente mudá-lo. Interesses privados e corporativistas impediriam toda mudança.
Neste livro, Friedman também advoga o fim das licenças governamentais para advogados e médicos como método de aumentar a concorrência e baixar preços – o que significaria o fim da Ordem dos Advogados do Brasil e do Conselho Federal de Medicina aqui no Brasil.
Ele também introduz a ideia de substituir o sistema de assistência social tradicional por um modelo de “imposto de renda negativo”, em que as pessoas que tivessem renda menor a determinado patamar recebessem impostos ao invés de pagar. Esse modelo de política social pró-mercado é tido como a inspiração para o Bolsa Família –inclusive pelo ex-Senador Eduardo Suplicy.
Por fim, ele traz uma de suas grandes contribuições: a ideia de que a educação estatal pode ser substituída por vouchers educacionais em que os pais podem ir ao mercado escolher em qual escola privada eles querem matricular seus filhos. Esse modelo foi implementado por países tão diversos quanto Colômbia, Chile, Estados Unidos e Suécia.
A História Monetária é provavelmente o livro acadêmico mais influente de Milton Friedman. Ele revolucionou a interpretação padrão que se dava às causas da Grande Depressão. Até a publicação deste livro, predominavam a visão de que a Grande Depressão tinha sido causada por “crises de superprodução” (na linha de JK Galbraith) ou por erros naturais causado pelas irracionalidades dos investidores (de acordo com John Maynard Keynes).
Friedman e Schwartz mostram que a Grande Depressão foi causada por erros políticos do Banco Central americano (Fed). Ao invés de perseguir uma regra de política monetária que mantivesse a quantidade de dinheiro circulante na economia estável (ou ligeiramente crescente), o Fed fez com que essa quantidade caísse fortemente – e transformou o que seria uma recessão breve na maior crise econômica da história. Em 2002, o próprio ex-presidente do Fed Ben Bernanke reconheceu isso, ao dizer: “Milton e Anna, vocês estavam certos. Nós somos responsáveis – e devemos desculpas.”
Nesse texto, Milton Friedman resume sua refutação teórica à teoria econômica prevalente à época que era utilizada como justificativa para inflação mais alta e mais intervenção governamental discricionária: a Curva de Phillips.
A Curva de Phillips presume uma associação negativa entre desemprego e inflação (o que implica em que crescimento econômico necessariamente deveria ser acompanhado de inflação mais alta). Friedman demonstrou que no longo prazo o desemprego não responde à inflação e é possível haver recessão econômica e inflação. Durante os anos 1970, os EUA entraram em recessão inflacionária (chamada de “estagflação”) e as teses de Friedman e seus amigos de Chicago (Ed Prescott, Bob Lucas e Ed Phelps) se mostraram corretas.
Neste artigo, que faz uma interessantíssima revisão do pensamento monetário de dois séculos, passando por Alfred Marshall e Friederich Hayek, os autores explicam porque eles acham que um sistema privado de moedas não existe, embora eles entendam que provavelmente este seria mais eficiente do que um sistema de moedas monopolísticas. A conclusão é que barreiras políticas, o costume histórico da população e a vantagem de ter um único meio para trocas é o que leva a uma tendência ao status quo. Mas ele dizia que isso podia mudar no futuro – e até previu em 1999 que surgiria algo como Bitcoins para substituir o papel moeda!
Ao contrário do que dizem alguns dos críticos de Friedman, ele não preferia o sistema de bancos centrais governamentais – afinal, ele construiu sua carreira apontando os maiores erros históricos do Fed. Ele simplesmente tentava sugerir as melhores políticas a partir da presunção de que ele não poderia alterar a base do sistema monetário. E este texto mostra isso claramente.
Carlos Góes é mestre em Economia Internacional (Johns Hopkins) e Pesquisador-Chefe do Instituto Mercado Popular.
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