Rafael Galera | 06 de abril de 2017
Desenho por Edme Jean Pigal. Colorização por J.J. Disponibilizado por Wellcome Library, Londres.
Chamada da Oxfam: “Os oito homens mais ricos do mundo possuem tanta riqueza quanto as 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre do planeta”.
As pessoas têm bastante dificuldade em diferenciar os conceitos econômicos de renda e de patrimônio.
Ocorre que a pesquisa da Oxfam utilizou o critério patrimônio, não renda.
Por exemplo, pelo critério do patrimônio, qualquer pessoa sem um bem em seu nome têm patrimônio zero. Caso um brasileiro tenha usado o FIES para estudar medicina, não tendo ainda pago esse empréstimo, provavelmente ele terá patrimônio negativo, mesmo com uma renda mensal altíssima.
Seguindo esta lógica, um bebê que acabou de nascer no Congo seria “mais rico” que esse médico recém-formado, já que ele não teria nenhum patrimônio em seu nome mas, ao menos, não teria nenhuma dívida.
Esta informação traz consigo resultados importantes: A população mundial é de 7 bilhões de pessoas, e, aproximadamente 3 bilhões são jovens sem nenhum bem em seu nome. A conclusão é, que, caso você tenha um fusca, terá um patrimônio maior que quase 3 bilhões de pessoas somadas.
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Ocorre que a fortuna das 8 pessoas mais ricas do planeta representam aproximadamente 0,3% do patrimônio mundial. Falando assim, parece algo bem menor do que dizer que eles tem mais patrimônio que metade do planeta. Mas são informações igualmente certas, a diferença é que a Oxfam é famosa por pegar dados reais e divulgar com chamadas enganosas.
Normalmente essas pesquisas acabam sendo muito difundidas justamente porque utilizam termos econômicos complicados que, quando manipulados, acabam passando informações verdadeiras, mas com interpretações totalmente equivocadas.
Caso queiram uma pesquisa mais séria sobre a evolução da desigualdade, recomendo as pesquisas de François Bourguignon.
As conclusões do pesquisador são muito importantes: a desigualdade, vista de uma perspectiva mundial, tem diminuído muito. Ela pode ter aumentado dentro de alguns países, individualmente. Mas o critério utilizado por François é comparar os mais pobres do mundo com os mais ricos do mundo, e seus resultados são nítidos: o crescimento da renda das classes mais pobres do mundo aumentou mais rapidamente que a dos mais ricos.
Isso se deve, principalmente, ao enorme crescimento de renda em países em desenvolvimento. O Coeficiente de Gini, se medido globalmente, teria diminuído anualmente desde 1990. Caso queiram ler um resumo de suas ideias, recomendo a leitura do artigo na FA ou de seu livro The Globalization of Inequality.
A imagem do artigo é retirada do livro de Bourguignon. Ela retrata a evolução do Coeficiente de Gini – que mede a desigualdade -, comprovando que, de 1990 para cá, o indicador, quando medido em escala global, tem caído constantemente e de forma acelerada.
A realidade é bem diferente do que a pesquisa da Oxfam leva a crer, não é mesmo?
Rafael Galera é Diplomata Brasileiro e idealizador do projeto Academia dos Cérebros.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] e [email protected]