Mariana Afonso | 15 de março de 2017
Foto por Scot Webb
O primeiro contato que tive com o Crossfit foi em 2015, por meio de um artigo publicado no New York Times de 2015 intitulado “When Some Turn to Church, Others Go to CrossFit”. A primeira coisa que pensei ao ler o texto foi “essas pessoas só podem ser loucas”, e a segunda foi “vou me matricular no Crossfit”.
Comecei a praticar o esporte em dezembro de 2015, e de lá para cá, as transformações e os benefícios que o Crossfit me trouxeram foram inúmeros. Ironicamente, e contrariando a previsão de todos – inclusive do meu médico -, nunca me senti tão bem.
Em 2012 fui diagnosticada com bursite dos dois lados do meu quadril e tendinite em um deles. Em 2015, descobri também uma espondilólise na minha lombar, assim como uma leve protrusão discal.
Na época, frequentava a academia e sentia muitas dores. Realizar exercícios em cadeiras abdutoras e adutoras era praticamente impossível; a bursite me trazia uma dor insuportável. Fazer mesa flexora, por sua vez, me trazia um terrível incômodo na lombar.
Quando procurei o médico em setembro daquele ano, sua orientação foi para que fizesse hidroginástica, já que este é um esporte com menos impacto. Dois meses indo para às aulas e já estava morrendo de tédio. Como paciente obediente que sou, me matriculei em um esporte com nível de intensidade quase parecido – ou não – o Crossfit.
Hoje, pouco mais de um ano depois, não só minhas dores cessaram, como também subi no pódio em uma competição local de Crossfit. Sinto-me mais forte e completamente apaixonada pelo esporte.
Mas não foram apenas os exercícios que me cativaram, a filosofia em torno da atividade também me conquistou. Greg Glassman, o seu fundador, não só é um libertário convicto – tendo inclusive palestrado na última ISFLC (International Students for Liberty Conference) -, como fez questão de passar sua crença ao Crossfit, criando um modelo de negócio inédito. Eis aqui as razões pelas quais o Crossfit é o esporte mais libertário de todos os tempos.
Apesar de termos evoluído muito tecnologicamente nas últimas décadas, a qualidade da nossa alimentação retrocedeu. Vivemos uma epidemia de obesidade, câncer, diabetes e doenças crônicas. Pesquisas mais recentes têm ligado esse grave quadro à alta ingestão de carboidratos refinados, açúcares, glúten e óleos industrializados.
Assim, além de repudiar completamente a tradicional “pirâmide” alimentar proposta pela USDA (U.S. Department of Agriculture) em 1977, o Crossfit encoraja que seus atletas se tornem adeptos de uma alimentação baseada em gorduras saudáveis, proteínas e vegetais, com pouquíssima ou nenhuma ingestão de grãos, contrariando as tradicionais dietas baseadas em carboidratos, que tendem a demonizar as gorduras e colesterol. Programas como o Whole 30, por exemplo, são bastante conhecidos entre os seus praticantes.
Não, não há a necessidade de possuir o bacharelado em educação física para ser treinador de Crossfit, o que causa a ira de muitos. Não são poucos os veículos “especializados” que encaram essa postura da rede como um demérito.
Entretanto, sabemos que vincular a carreira de alguém a um diploma, é torcer pela criação de uma reserva de mercado. As pessoas simplesmente não gostam de concorrência, e concorrência é a alma do livre mercado.
Greg Glassman, CEO da Crossfit, era um personal trainer com uma personalidade forte e métodos revolucionários, insatisfeito com os métodos tradicionais de treinamento adotados em academias.
Um dos WODs (workout of the day) mais conhecidos entre os praticantes de Crossfit é o Fran, um dos primeiros criados por Greg Glassman. O treino consiste em thrusters e pull-ups realizados no esquema de repetições 21-15-9.
Hoje, surpreendentemente, o Fran se faz presente no mundo inteiro, em mais de 13.000 afiliados da rede ao redor do mundo. Carinhosamente, aqui no Brasil, ele é muitas vezes chamado de “Francisca”.
A Crossfit Inc. foi fundada em 2000, e esse crescimento absurdo em tão pouco tempo se deve a um inédito modelo de operações. Para se tornar um treinador, basta possuir um certificado level 1, e para abrir um box afiliado, basta pagar uma taxa anual à rede.
Questões mais específicas relacionadas às mensalidades, esquema de funcionamento etc., ficam a cargo do próprio afiliado, que é livre para operar da maneira que convém.
Russ Greene, porta-voz da rede, já afirmou taxativamente que a Crossfit adota a ideia libertária de livre mercado, e não vê necessidade em um controle centralizado. No twitter oficial da organização, é possível encontrar diversos tweets que expõem o viés libertário do Crossfit.
Poucos nunca ouviram esta frase depois de um WOD. A obrigatoriedade da responsabilidade e as consequências da sua não adoção se fazem presentes todos os dias no Crossfit. Assim como no livre mercado, quem for relapso ou não atender ao que se pede, pagará o preço em burpees.
Além disso, o esporte também estimula uma competição saudável entre os seus membros. Após cada WOD, os participantes são encorajados a anotarem seus resultados no quadro, a fim de formar um ranking.
Como resultado dessa competição, os atletas buscam a sua constante melhora, tal qual empresas em um ambiente de mercado, mas, neste caso, os produtos são qualidade de vida e condicionamento físico.
Em entrevista à ReasonTV, Glassman afirmou que era um libertário fanático.
Um libertário fanático, levando as ideias da liberdade ao mundo todo da maneira mais inusitada: por meio do esporte. Greg Glassman foi capaz de inovar e revolucionar o mundo fitness e é, sem sombra de dúvidas, uma das mentes mais brilhantes do nosso tempo.
Mariana Afonso é coordenador local do Students For Liberty Brasil (SFLB).
Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected] ou [email protected].