Luan Sperandio | 7 de junho, 2017
Danilo Gentili, 37, é humorista, empresário e apresentador do talk show The Noite no SBT. Apesar de comediante, suas piadas frequentemente são alvo de críticas de jornais e motivo de processos judiciais. Nesta entrevista, Danilo lembra de sua origem pobre em Santo André/SP, conta sobre a patrulha do politicamente correto no Brasil e faz uma defesa da liberdade de expressão e sobre o documentário que tem produzido.
SFLB: Apesar de hoje bem sucedido, sua vida se iniciou no subúrbio de Santo André. Como você enxergava o intervencionismo do Estado e qual a sua percepção sobre ele hoje?
DG: Cresci em um lugar comum e pobre em Santo André e meus pais e vizinhos sempre abominaram isso. Eu tenho a experiência de viver em um lugar mais pobre e sem recursos e hoje, que tenho uma vida confortável e com mais recursos financeiros, preciso dizer que o intervencionismo do Estado era ainda pior para mim quando eu era pobre.
Cresci vendo minha família pagar altos impostos em cada saco de arroz que comprava no mercado ou no Fusca velho que meu pai tinha – e nunca recebemos nada em troca. A educação, a segurança, a justiça, a estrada, as ruas, a liberdade… tudo isso é precário para os pobres. E os pobres pagam impostos (se não pagarem vão presos!) e não recebem nada em troca.
Hoje eu sou bem de vida. E continuo pagando imposto. E os pobres continuam não recebendo nada em troca. Tudo continua precário. Então posso afirmar que impostos não são a solução de nada. Quantas vezes vi meu pai reclamando que se ele não tivesse que pagar imposto para o governo ele teria mais dinheiro para investir em outras coisas e aí sim teríamos mais oportunidades?
Hoje eu continuo odiando pagar imposto, mas a diferença é que antes o dinheiro dos impostos me fazia muito mais falta e hoje eu tenho condições de pagar pelos serviços particulares. É aqui que quero chegar: eu odeio pagar imposto não porque sou rico, mas porque me lembro de quando eu era pobre.
A intervenção do Estado só existe na vida do pobre para limitá-lo. Pelo menos esses foram os maiores obstáculos que vi minha família ter sempre que tentaram abrir o próprio negocio: impostos e burocracia. Nossa vida teria sido mais fácil se não tivesse tanta intervenção estatal assim. O dia que o pobre perceber que é melhor que o Estado não “cuide” dele, ele nunca mais vai querer intervenção estatal nenhuma.
SFLB: Tivemos no Brasil grandes comediantes, como Chico Anísio e Millôr Fernandes, que eram famosos por criticar políticos, mas isso pareceu se tornar um tabu na última década. Por que e a partir de que momento isso mudou na sua opinião?
DG: Isso não é mais tabu por aqui desde que o Temer assumiu. Hoje você encontra humoristas na TV aberta e fechada fazendo piadas e criticas ao presidente. Aliás, não só a ele como a sua esposa e a seu filho. Vale tudo. Não é machista xingar a esposa do presidente de burra, fútil ou interesseira; e nem covardia atacar uma criança. Portanto, todos esses tabus caíram quando o PT caiu do poder. Antes disso eu sofria constantes ataques no mainstream sempre que satirizava a presidente. Era tenso! Fica claro que o problema não é um humorista satirizar o presidente. O problema é um humorista satirizar a esquerda.
Isso acontece porque a grande parte do jornalismo brasileiro é esquerdista. As universidades brasileiras formam militantes e não jornalistas. Então o jornalista se forma e entende que a missão dele é defender o discurso e agenda esquerdista e não fazer jornalismo. Continua sendo tabu satirizar Dilma, Lula ou algum deputado do PT. Quando você xinga a família Temer, a imprensa escreve na manchete “Humorista satiriza”. Mas quando faz isso com algum membro do PT ou PSOL, a manchete do jornal transforma sua piada em “ofensa”.
Nunca é piada quando é com algum esquerdista. Ë sempre machismo, racismo, homofobia, xenofobia, etc. Recentemente sofri censura oficial e toda imprensa mainstream classificou isso como “justiça”. O tabu nunca foi satirizar presidente e sim satirizar esquerdistas. E quem construiu esse tabu com uma mira laser na testa de todo mundo foi a imprensa brasileira: “Se você falar o que não queremos sobre quem não queremos, atiramos para assassinar a sua reputação”.
Uma breve pesquisa no Google prova isso que falo. E todas as pessoas estão percebendo [isso]. Eu acredito que só sobrevivi até hoje a todo assassinato de reputação por um motivo: eu não tenho reputação nenhuma a zelar. Acho que eles não contavam com isso. Eu realmente não estou nem aí. Sou um homem livre e zelo mais pela liberdade que ser bem falado nas panelinhas de artistas ou ter um bom emprego. Eu admito perder tudo, menos minha liberdade.
SFLB: Tem se popularizado nas redes sociais páginas de memes que brincam e fazem “chacota” da classe política. Talvez o melhor exemplo seja a página “Corrupção Brasileira Memes”. O Palácio do Planalto chegou, inclusive, a proibir o uso de imagens sem créditos para criação de memes. Recentemente você compartilhou uma imagem de Hans Hermann Hoppe, que diz que uma das maiores ameaças ao estado é o humor. Por que o estado temeria uma piada?
DG: Quando você ri de algo você se torna superior a esse algo. Se você ri da dor, é porque ela não te atinge mais. Quando você ri de um defeito seu, é porque você é superior a ele. E o Estado e os estatistas não suportam a ideia que você seja superior a ele. São autoritários por natureza. E o humor ri da cara do autoritarismo. Eles controlam as pessoas pelo medo: “Se falar isso, direi que é uma pessoa ruim, farei você perder seu emprego, acabarei com sua carreira”. Mas quando você ri você está simplesmente dizendo que não dá “a mínima”.
SFLB: Talvez a explicação mais comum para as restrições à liberdade de expressão seja a de isso seja “para evitar discursos de ódio”, mas já foi considerado discurso de ódio defender a abolição da escravatura e argumentar a favor da união entre pessoas do mesmo sexo. Apesar disso, os principais alvos de grupos que realizam patrulhas, os comediantes, não costumam tomar partido para defender a liberdade de expressão. Por que há essa omissão na sua opinião
DG: O pessoal do showbusiness superestima o poder do jornalismo. O jornalismo sabe fazer muito barulho de fato, mas eles não representam as pessoas. Percebi isso porque recebo constantes ataques e campanhas de assassinato de reputação de jornais, e eles de fato vigiam de perto tudo que eu digo, retiram de contexto, patrulham, me colocam a “pecha” de machista, fascista, nazista, racista, homofobista, taxista, trapezista, etc, etc… e meus shows seguem lotando. Meus livros vendem muito. Minha casa de comédia tem fila na esquina todo dia. Na mesma semana que houve na imprensa mainstream uma franca campanha de difamação a meu nome por esculhambar a censura de uma deputada federal, meu programa ficou em primeiro lugar de audiência, desbancando a concorrência.
Então eu sinto que sendo sincero e zelando pela minha liberdade estou mais conectado com as pessoas do mundo real (que seguem aprovando meu trabalho) do que esses jornalistas patrulheiros que vivem em uma bolha. Eles de fato não representam as pessoas. Quando eu percebi isso eles deixaram de me fazer de refém. Eu não tenho medo do que eles podem fazer comigo em suas manchetes. E mais: hoje eu falo com mais gente nas minhas redes sociais que o maior jornal do país. É só olhar os números de seguidores. Eu tenho de certa maneira um poder de alcance maior que eles. Se os artistas percebessem isso seriam mais autênticos e verdadeiros e parariam de ser reféns do politicamente correto – esse sim, o verdadeiro mal dos dias de hoje
SFLB: Como são tratados os humoristas em outros países com maior liberdade de expressão?
DG: O politicamente correto é uma praga ocidental. O Brasil só ecoa a agenda que vem da New Left americana. Eu acho que isso é ainda pior nos USA e Europa. Mas também percebo que as pessoas estão raivosas com a imprensa tanto lá fora como aqui no Brasil. E o motivo é simples: as pessoas odeiam ser enganadas.
SFLB: Recentemente você anunciou a produção de um documentário sobre “os limites do humor” com o cineasta Josias Teófilo. Como surgiu esse projeto e o que lhe estimulou a desenvolvê-lo?
DG: Desde a primeira vez que vi um jornalista me fazer a pergunta em tom regulatório “Qual é o limite do humor?” tento entender qual a real intenção por trás dessa pergunta. Essa pergunta me coloca no paredão até hoje. Fiz uma vasta pesquisa procurando entender isso e iria lançar um livro, mas cheguei a conclusão que um documentário teria mais abrangência. Então conheci o trabalho do Josias e o convidei para dirigir essa minha ideia. O documentário vai responder de uma vez por todas “Qual é o limite do humor” e deixar claro pra todo mundo o interesse obscuro por trás dessa pergunta.
SFLB: Qual a expectativa de data para o lançamento do documentário e qual o impacto que você espera que ele cause?
DG: Lançaremos em maio do ano que vem. Eu tenho certeza que ele vai esclarecer muita coisa para as pessoas que não aguentam mais todo esse “mimimi” seletivo – pois um dos motivos que sinto que revoltam as pessoas é a seletividade no melindre.
Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].