Luan Sperandio | 30 de agosto, 2017
Raphaël Lima é o criador do Canal no Youtube Ideias Radicais. Com mais de 200 mil seguidores, diariamente publica vídeos falando sobre política, economia e filosofia, dentro do entendimento libertário.
Nessa entrevista, ele, que tem buscado estimular projetos libertários em todo o país, fala sobre como foi a produção de seu livro, Voto Ofensivo e de suas análises atuais do movimento libertário.
SFLB: Você lançou pouco antes das eleições de 2016 a obra ‘Voto Ofensivo’, defendendo que libertários deveriam passar a utilizar partidos e eleições como uma arma para enfraquecer o poderio estatal. A que se deve sua mudança de opinião? Podemos dizer se tratar de um amadurecimento filosófico?
Raphäel Lima: Originalmente seria um livro contra o voto e a participação política, e para isso obviamente precisei revisar a opinião dos libertários acerca do assunto. Ao revisar a opinião de Block, Rothbard e Lysander Spooner percebi que eu estava do lado incorreto do argumento, e naturalmente o livro acompanhou isso.
Amadurecimento é uma palavra forte, pois implica que o outro lado ainda é infantil, o que não é verdade. É uma mudança de posição frente a um novo argumento que não vejo como pode estar errado, mas que ainda admito pode estar errado.
SFLB: Você tem criticado um pouco o “liberalismo de Facebook”, pedindo para as pessoas saírem das redes sociais e se encontrarem, formarem projetos em conjunto, se conhecerem melhor… os libertários brasileiros falam demais e executam pouco?
Raphaël Lima: Esta é uma crítica que precisa ser melhorada, honestamente. É verdade que não haveria libertarianismo hoje não fosse o Facebook ou o defunto-zumbi Orkut. A internet é uma ferramenta excelente e maravilhosa para a divulgação do libertarianismo. O ponto é que ela tem seus limites, e a interação social pessoal é muito mais condutiva a formar novas relações [e você pode ter acesso à uma comunidade fazendo sua inscrição no SFLB clicando aqui], enquanto a internet é muito condutiva a trazer o pior das pessoas e colocar as piores pessoas em destaque.
Sobre falar muito e executar pouco, me parece que sempre estaremos fazendo pouco enquanto o libertarianismo não tiver vencido. Sempre há uma nova ideia, uma nova ação, e ela precisa ser tomada. Falar também é fazer algo, e é naturalmente muito importante para a divulgação de uma filosofia, mas também é importante diversificar suas ações para outras coisas além de discussões internéticas.
SFLB: Dentro desse contexto, uma piada comum com socialistas era a de que eles se dizem socialistas, mas não leram Karl Marx. Mas tem acontecido um fenômeno parecido, o de “libertário que não leu as Mises”. Por que isso vem acontecendo?
Raphaël Lima: Porque não somos pagos para ficar apenas ruminando nossos autores, diferentemente da esquerda. Francamente, poucas pessoas têm o tempo e a disposição de ler enormes tratados econômicos e filosóficos, especialmente quando este não é seu trabalho e estão mais ocupados em atividades que produzem algo e geram emprego, como tocar suas empresas, trabalhar, cuidar de sua família ou estudar o curso que estão agora. Para estas pessoas precisamos ser capazes de resumir os conteúdos e apresenta-los de uma maneira mais palatável e concreta, e esta é uma das funções que tento cumprir no meu canal.
Ademais, não é absolutamente necessário, embora desejável, que todo libertário tenha lido absolutamente tudo que já tenha sido escrito. Penso que caso ele seja capaz de explicar direitos naturais sucintamente, o problema do calculo econômico e como funciona a ordem espontânea, já está muito bom. Não podemos ser todos acadêmicos; afinal de contas, alguém precisa construir as estradas.
SFLB: Por que o libertarianismo ainda não tem penetração profunda na academia?
Raphaël Lima: Certas coisas simplesmente levam tempo, como vinho e whisky. Estamos formando a segunda onda de professores, sendo os primeiros os poucos bravos que hoje estão orientando a segunda geração. Não temos como acelerar isso, pois este é o passo da academia. Podemos apenas aumentar o numero de pessoas que estão tomando este caminho, o que já está acontecendo.
Outros dois problemas também surgem, mas já estão sendo resolvidos: a falta de cursos dedicados a Escola Austríaca e a falta de demanda por professores com essa especialização nas universidades. O primeiro está surgindo agora e poderá se intensificar já que existe a demanda, o público do meu canal que o diga. O segundo é mais complexo, pois as universidades ainda não enxergaram a real demanda por uma nova visão na economia, e talvez até percebam tarde demais, mas existem pequenos indícios que algumas universidades por aí já sentiram o “cheiro de sangue na água”.
SFLB: Seu canal tem difundido conteúdo, mas também fomentado iniciativas liberais país afora. Como você enxerga a proliferação de projetos e a quantidade de indivíduos interessados em ajudar o libertarianismo?
Raphaël Lima: Competição é bom em tudo, inclusive para espalhar uma ideia. Tenho meu canal e ele tem o seu público e seu sucesso, mas fiz ele justamente pensando em pegar um publico diferente do IMB ou de sites mais sérios, voltados para a Economia. Outros ainda podem ter uma ideia de outro nicho, ou outra linguagem, e por aí vamos, é excelente ver essa crescente variedade surgindo.
SFLB: Uma ideia que você tem falado de forma reiterada é a de se mudar para uma pequena cidade e estimular uma migração de libertários, criando uma comunidade libertária no local. É um sonho, uma ideia ou um plano? Quais as chances disso acontecer na próxima década?
Raphaël Lima: É um plano. Chances são incalculáveis.
Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].