Nick Coughlin | 20 de julho, 2017
De acordo com muitos da autodenominada esquerda americana, o libertarianismo é a extensão radical da ideologia do republicanismo americano. É divertido para aqueles de nós que são identificados como libertários ler tais coisas como a verdade das eleições, a política e a retórica dizem outra coisa. Ademais, a ironia pode ser encontrada dentre os inúmeros esquerdistas americanos que parecem se sentir de certo modo distantes do que eles descartam como sendo a “direita”, enquanto eles afirmam ser a “esquerda”.
Esta ironia é, em grande parte, resultado das diferenças completamente retóricas entre as partes. Cada um dos principais partidos políticos americanos apoia, e por sua vez é apoiado, por grandes corporações, cada um mantém a proibição às drogas, cada intervenção nos mercados só vai até o ponto em que não afete as contribuições de campanha, e cada um nega à população americana a propriedade de si mesmo por uma gama de razões; cada um continua o legado neoconservador iniciado durante a Guerra Fria, realizando invasões intervencionistas em outras nações.
O fato dos esquerdistas americanos rebaixarem o que se opõe a eles como sendo uma faceta de uma ideologia política que têm a pretensão de odiar, sendo semelhantes a ela, é, ao mesmo tempo, ridículo e confuso.
A esquerda americana de maneira nenhuma encarna o pensamento de esquerda (a despeito do que alguns estudiosos conservadores possam pensar). Eles prosperam fora das corporações que mantêm o funcionamento do estado tanto quanto os republicanos. Se você realmente acha que a esquerda de classe alta e média alta que defendem o aumento dos impostos e programas sociais iriam, em um segundo, denunciar seu estilo de vida burguês, você está redondamente enganado.
Da mesma forma, a direita americana não é realmente “direita” com o significado tencionado pela teoria econômica. A direita americana frequentemente defende o controle de imigração, por exemplo.
Como a maioria das pessoas que leem este blog têm uma boa ideia de como o livre mercado funciona, há pouco a ser acrescentado aqui. Mas por causa dessa discussão, deixe-me salientar que o “capitalismo” não é “corporativismo”, mas por causa da confusão perpetuada nesta área, o termo “livre mercado” pode ser usado. Eu escolhi este termo para evitar dar vazão à desconfiança de pessoas que não sabem do que estão falando, mas também porque um mercado verdadeiramente livre poderia não exigir “capital” (apesar de uma economia baseada no escambo ser muito inconveniente, mas quem sou eu para lhe dizer como viver?)
Da mesma forma, “comunismo” não é “socialismo de estado”. Para aprofundar, não há nada de errado em um grupo de indivíduos decidir voluntariamente ser dono dos meios de produção de forma comunitária e, ainda em comunidade, possuir todos os itens produzidos posteriormente. Os males associados ao comunismo e à ideologia comunista advém dos atores estatais forçarem a sua vontade sobre aqueles que estão hesitantes em trabalhar nas fazendas coletivas ou são francos no seu desagrado com relação ao comunismo.
Esta é uma simplificação, mas os pecados de cada estado que afirma uma ideologia não podem ser vistos como uma falha da própria ideologia, e o mesmo vale para o capitalismo. Quantos inocentes foram mortos nas tentativas dos Estados Unidos de divulgar o neoliberalismo e o capitalismo a outras nações? Talvez não tantos quanto os expurgos de Stalin, no entanto, um monte de gente.
Há alguns anos, Matt Drudge tuitou algo a respeito “Não há mais diferença entre esquerda e direita nos EUA, apenas autoritarismo e libertarianismo.” Eu cheguei a essa conclusão ao ler sobre ambas e outras escolas de pensamento libertário de esquerda. Apenas mais tarde eu percebi que essa frase era quase inteiramente correta; Este foi um importante catalisador para o meu desejo de reflexão sobre as minhas próprias noções de filosofia voluntarista[.
Ele pode não parecer grande como um salto ou uma ideia revolucionária, mas com quase um século de história apontando para um enorme conflito entre “comunismo” e “capitalismo”, a ideia de que os mercados e o socialismo são incompatíveis permeia os pensamentos de muitas pessoas hoje em dia. Eu, no entanto, sugiro que as diferenças entre as duas escolas de pensamento são irrelevantes.
Não é como você deseja produzir ou trocar bens que importa, mas como você deseja implementar esse sistema. A palavra-chave aqui é voluntário. Se você e algumas pessoas que você conhece quiserem ser socialistas, certamente têm acesso aos meios necessários. Se algumas pessoas que conheço e eu quisermos estabelecer uma moeda com base no valor subjetivo e trocar bens utilizando-a como meio, iremos passar os olhos sobre a sua cidade e sorrir para você enquanto fazemos isso.
Para trazer um pouco mais de complexidade a esta questão, vou compartilhar um resumo da ideia de sociedade voluntarista que eu tenho em minha mente: Vamos dizer que existem duas cidades que são bastante próximas uma da outra, perto o suficiente para que você possa ir de bicicleta de uma para a outra sem muito esforço. Em uma cidade, vamos chamá-la de Proudhonville, os moradores escolheram possuir, coletivamente, a cidade, e todo o trabalho deles é em prol da mesma. Eles são em grande parte autossuficientes, produzindo seus próprios alimentos, fabricando algumas roupas, etc. Eles trocam alguns itens que fazem por coisas que não podem fazer. Eu realmente não sei os prós e contras de Proudhonville; tudo que eu sei é que essas pessoas vivem lá por vontade própria e são relativamente felizes.
Um pouco mais adiante há uma outra cidade, vamos chamá-la de Murrayboro. O povo de Murrayboro reside ali voluntariamente e organizou uma moeda em formato eletrônico que concorre com outras moedas em maior escala, mas na maioria das vezes utiliza sua própria moeda criptografada. As pessoas trocam livremente produtos e serviços umas com as outras e, às vezes, até mesmo negociam com os habitantes de Proudhonville. Pelo fato de os Proudhonvillianos não aceitarem a sua moeda eletrônica, eles comercializam em espécie.
Existem inúmeras cidades como esta, espalhadas por todo o lugar. Considerando-se a era moderna, elas não estariam isoladas umas das outras de forma alguma. Devido a isso, é muito fácil ver quais cidades têm habitantes felizes. As pessoas que vivem em lugares nos quais provavelmente são menos felizes, podem aprender como ser mais felizes com seus vizinhos.
Do mesmo modo, algumas pessoas podem se deslocar juntas e fazer novas cidades ou grupos como eles obterem novas ideias e fazer misturas com os métodos de organização que melhor proveem a saúde e felicidade de seus moradores. Aqui é onde eu acho que a evolução das sociedades e a organização econômica e social iriam verdadeiramente florescer: sem um estado para ditar rigidamente o que, como, onde e o motivo pelo qual você pode se deslocar, associar, comercializar, trabalhar e viver, haveria uma fluidez para a sociedade que resultaria em pessoas vivendo naquela cidade, se mudando para lá, ou criando sistemas que achassem mais adequados para si.
Este exemplo apresentou um modo de vida de socialistas que vivem lado a lado à uma cidade voltada para o livre mercado, mas poderia apresentar qualquer outro tipo de comparação, dependendo da área específica. Isso também poderia incluir haver uma área com algum tipo de governo centralizado “limitado” competindo com áreas sem nada parecido com uma entidade, desde que todos os envolvidos respeitassem os direitos individuais ou coletivos à propriedade.
Esta ideia é um tanto abstrata, e, certamente, pode ter algumas falhas. Meu exemplo também carece de profundidade porque o exame das muitas facetas de cada cidade e suas ordens econômicas e sociais se tornaria tedioso. No entanto, acho que o fundamento da minha ideia se mantém firme. A base para isso é que, apesar do que alguns intelectuais gostariam que você pensasse, a maioria das pessoas é naturalmente boa e deseja aprimorar a si mesma e aqueles ao seu redor.
Em resumo, deixo vocês com as palavras do Mestre Chuang: “Há muitas maneiras de andar pelo mundo e, cada pessoa que escolhe uma maneira particular, a considera tão boa a ponto de ser impossível o aprimoramento”.
//Traduzido por Ana Rachel Gondim
Nick Coughlin é campus coordinator do Students For Liberty.
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