Três conselhos aos jovens que desejam mudar o mundo

Três conselhos aos jovens que desejam mudar o mundo

Peter Boettke | 11 de fevereiro, 2015

Tookapic

No dia 19 de junho, eu tive a oportunidade fazer uma palestra para os membros do programa Koch Associate, em Washington D.C.. O programa oferece a recém-formados a oportunidade de trabalhar por um ano na rede dos think-tanks, além de passar por uma série de programas de treinamento desenvolvidos pela Koch Foundation. O programa tem obtido um enorme sucesso.

Minha palestra era sobre como pensar a respeito do problema da “transição” e sobre como se fazer uma “análise da transição”. Eu me inspirei basicamente em minhas experiências na Europa central e oriental, e na antiga União Soviética, bem como em trabalhos mais recentes sobre a economia do desenvolvimento em geral (América Latina e África) e também nos esforços de ‘reconstrução’ após guerras e desastres naturais.

Entretanto, antes da minha palestra, eu dei três conselhos gerais, direcionados aos jovens de mentes sérias, inteligentes e impressionáveis que desejam mudar o mundo:

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Conselho #1: Não confunda comprometimento com dogmatismo

A ciência, argumentei, progride através do comprometimento dos cientistas com as proposições. Essa é uma afirmação tipicamente polanyiana, mas essencial. Muitas pessoas que não estão envolvidas com a ciência (inclusive os filósofos da ciência) não têm ideia alguma sobre como a ciência progride e afirmam que seria tudo baseado em subverter-se a si mesmo. Obviamente, a autocrítica é importante, mas não é dessa maneira que a ciência progride. A ciência progride pela pesquisa insistente que alguns cientistas fazem usando certas ideias, e estes confrontam a busca insistente de outros cientistas do mesmo campo.

A ciência deve causar dor quanto as proposições estão erradas. Mas, para algo DOER, a pessoa a quem as provas mostram estar errada precisa ter acreditado sinceramente estar com a razão. A ousadia de uma conjectura está correlacionada positivamente com o nível de comprometimento que o cientista possui com a proposição. Queremos conjecturas corajosas submetidas à refutação, não as fracas. Isso significa que os cientistas terão opiniões fortes e isso, frequentemente, é confundido com o dogmatismo, coisa que não é.

Na verdade, como já escrevi anteriormente, o dogmatismo não é um problema de nível individual, mas um problema de nível disciplinar. Enquanto houver uma competição aberta nos campos de pesquisa, o dogmatismo não causará estragos no avanço científico/intelectual. Eu diria que afirmar o contrário é, na realidade, não compreender como a ciência progride e como os melhores cientistas da história humana trabalharam de fato. Assim, o dogmatismo sistemático deve sempre ser rejeitado porque pode matar o progresso científico.

Conselho #2: Não confunda a falsa humildade com a verdadeira humildade

Nesta era pós-moderna, é comum as pessoas afirmarem que nós não sabemos nada. Eu não sei, você não sabe, nenhum de nós sabe. E nós somos todos super bacanas por não sabermos nada! Não, não é legal não saber nada. Na verdade, é muito ruim não saber certas coisas. Sentimos uma alegria verdadeira ao compreender as coisas e, se você quiser pensar seriamente sobre questões importantes, comece por tentar compreender as coisas, ao invés de afirmar que não sabe de nada.

Além disso, o progresso do conhecimento pode não ser uma simples passagem linear do desconhecido para o conhecido, mas também não é um tiro no escuro. A expressão é: “quanto mais sabemos, mais sabemos que não sabemos”.

A esfera do conhecimento expande-se, e à medida que o conhecimento cresce, a esfera cresce – ou seja, a área do que é conhecido se expande, mas à medida em que a esfera se expande, a superfície (ou a consciência) do desconhecido também cresce. Essa é a humildade que aprendemos a partir do conhecimento científico e não a falsa humildade segundo a qual nenhum de nós sabe nada. Não, a maioria das opiniões sobre as políticas econômicas está errada e nós sabemos disso porque essas opiniões não são baseadas nem na lógica, nem em provas.

Se pensarmos por um minuto a respeito de nossos problemas em relação à economia, poderemos ser capazes de esclarecer isso. Primeiro, o mundo econômico que ocupamos é um fenômeno complexo que abrange uma intricada rede de interconexões, dependências históricas e está mergulhado, como disse Keynes, nas “forças obscuras do tempo e da ignorância.” Essa é a situação econômica em que o ator econômico se encontra.

Mas isso não é um problema para os economistas que, apesar disso, estão estudando os problemas e buscam compreender as estratégias de competição e os mecanismos institucionais que emergem para auxiliar nesse confronto com o tempo e a ignorância. Em outras palavras, o conhecimento do economista é diferente do conhecimento do ator econômico. Nós, como economistas, temos acesso ao conhecimento que atores dentro da economia não têm. Essa é uma ideia importante, enfatizada por Hayek, mas às vezes esquecida pelos subjetivistas extremos.

De fato, pode haver uma ciência objetiva voltada para o estudo das percepções subjetivas das oportunidades de trocas e produção que visem o lucro – a teoria empresarial do processo de mercado. O conhecimento da teoria do processo mercadológico não significa que você poderia ser um empresário, quanto mais ser alguém que regulasse esses processos. Isso significa que você consegue compreender a “explicação do princípio” que fundamenta a ordem produzida no processo mercadológico. O conhecimento é doce. Não vamos azedá-lo.

Conselho #3: Diga a verdade aos poderosos. Não crie estratégias com o poder

A principal questão para os indivíduos que desejam mudar o mundo é compreender que o problema não são os diferentes partidos políticos, mas as diferentes regras do jogo. O que mais importa é a estrutura do governo e não quem o governa. Você deve se concentrar na mudança e na busca por regras que gerem incentivos compatíveis com o “jogo” que você deseja promover.

Com relação a isso, a utilização de ideias econômicas compreensíveis e inofensivas pode torná-lo bastante popular no circuito de palestras, mas não lhe ajudará a mudar o mundo. Mais uma vez, deixe-me repetir: a ciência deve doer.

Além disso, desenvolver estratégias para diluir uma mensagem econômica a fim de que ela seja adotada por aqueles que estão no poder também não funciona. Os especialistas na diluição de ideias econômicas podem atingir altos postos políticos, mas não promoverão a verdade econômica ou política.

Eu disse à plateia que, em minha opinião, os livros mais importantes que deveriam ler nesse verão são: Free Markets Under Siege, de Richard Epstein e Politically Impossible? De W. H. Hutt. Epstein enfatiza os frutos mais imediatos das políticas públicas, dizendo que se nos concentrássemos apenas nos problemas econômicos mais simples e, ao contrário dos políticos, os compreendêssemos corretamente, ajudaríamos milhões de pessoas em todo o mundo – tarifas mais baixas, impostos menores, a eliminação de algumas regulamentações, a eliminação dos controles sobre preços e salários etc.

Questões fáceis de ser solucionadas. Existem questões complicadas nas políticas públicas econômicas; mas em 90% dos problemas que enfrentamos, são as questões facilmente solucionáveis que distorcem tudo e que prejudicam a vida de tantas pessoas. Pense na crise atual dos alimentos e examine o aumento das políticas protecionistas em todo o mundo, que impedem os ganhos comerciais de saná-la. Mais uma vez, são questões fáceis de ser solucionadas.

Hutt, por sua vez, enfatiza que é responsabilidade dos economistas dizer a verdade, como eles a veem, aos donos do poder, e nunca abrir mão de sua mensagem. A razão é que se os economistas diluem suas mensagens, os políticos as diluirão ainda mais no processo político e, quando aquela ideia se tornar uma política verdadeira, será irreconhecível ao economista. Essa diluição, ao invés de dar voz à economia, a cala completamente, e com o consentimento dos próprios economistas. Então, diga a verdade ao poder e danem-se as consequências relacionadas à sua popularidade no mundo político.


Peter Boetkke é professor de Economia e Filosofia na George Mason University e Diretor do Programa F.A. Hayek de Estudos Avançados na Filosofia, Política, Economia no Mercatus Center.

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