Bernardo Vidigal |11 de junho, 2017
Não há nada mais individual do que quem você ama, por quem você se sente atraído e como você se identifica. É uma expressão bela é única, particular de cada um. E ter orgulho de fazer o que quiser, é celebrar a individualidade de cada pessoa.
Mas a coletivização do conceito de gênero e de sexualidade ainda é distopicamente cotidiana. Essa força já foi muito maior, mas se hoje é comum ver casais homoafetivos andando nas ruas de grandes cidades, escolher o banheiro do gênero que você se identifica ainda arrasta grandes polêmicas.
Talvez não muita gente saiba, mas o movimento do Orgulho Gay começou justamente como uma reação às agressões a liberdade de você ser quem quiser. Ele tem como marco de seus primórdios o dia 28 de Junho de 1970, com a parada de Christopher Street Liberation Day, que percorreu 51 quarteirões da cidade de Nova York, desde Christopher Street até o Central Park. Com a manifestação ocupando simultaneamente 15 quarteirões ao longo do trajeto.
Essa parada foi organizada para lembrar o que aconteceu um ano antes, em 28 de Junho de 1969 na mesma Christopher Street. Neste dia, a comunidade gay de Greenwhich Village reagiu pela primeira vez às operações policiais contra os bares gays do bairro. Na época, gays americanos eram marginalizados e o governo ativamente fazia campanha contra homossexuais, repreendendo seus estilos de vida e sua liberdade de expressão.
Nada disso havia impedido Greenwhich Village de ter uma forte comunidade gay. Havia, porém, um risco legal de operar negócios voltados a comunidade por alí. Muitos estabelecimentos eram geridos à margem da lei, com relações corruptas com o poder público para se manterem funcionando.
E a história da liberação de Christopher Street começa, portanto, com um desses estabelecimentos, o Stonewall Inn.
Gerido pela máfia nova iorquina, ele servia o público gay de Greenwhich Village. Homossexuais de todos os tipos frequentavam o local, de Drag Queens a banqueiros dentro do armário de Wall Street. O bar pagava propinas à polícia para se manter funcionando, mas ele ainda era desenhado para receber ações policias.
O bar era escuro e quando a polícia se aproximava, as luzes eram acesas para alertar os frequentadores. Como crossdressing era crime, frequentemente policiais verificavam o gênero dos frequentadores com inspeção da genitália. Drag Queens identificados como crossdressers eram presos e levados à delegacia.
Em 28 de Junho de 1969, entretanto, foi diferente.
Neste dia, a operação policial no Stonewall Inn começou bem tarde na noite. Normalmente as propinas pagas à polícia garantiam que as operações fossem mais cedo, antes do horário mais movimentado de Greenwhich Village. A população de Nova York, entretanto, estava pressionando o poder público a ser mais linha dura contra os bares gays da cidade e a polícia resolver agir.
A ação não usual da polícia, entretanto, despertou um sentimento de revolta em quem assistia a operação. Uma multidão se reuniu do lado de fora do bar para impedir a ação. Começaram, inclusive, jogando moedas no prédio do Stonewall, ironizando o pagamento de propina. A polícia não estava acostumada a reações da comunidade gay e não estava preparada para conter a revolta. O embate se escalou e durou toda a noite e ficou conhecido depois como Stonewall Riots.
Este foi um dia de resistência. Lutaram por suas individualidades e a liberdade de serem quem eles eram. E essa defesa incansável da expressão individual é forte dentro da comunidade gay e é um legado de 28 de Junho de 1969.
Um ano depois do Stonewall Riots, aconteceu a Christopher Street Liberation Day. Que é replicada ao redor do mundo até hoje com as paradas do Orgulho Gay, que são um dos maiores símbolos da comunidade, em uma celebração da memória daqueles que reagiram primeiro.
Grandes conquistas foram feitas, mas ainda há largos passos a serem dados para que cada um possa ser feliz do seu jeito. Por isso, toda vez que um homem coloca vestido, peruca, maquiagem e se monta de Drag Queen; toda vez que um casal homoafetivo segura a mão em público; toda vez que alguém dança Vogue; e toda vez que alguém não se conforma com o que lhe é imposto; essa pessoa está celebrando o orgulho de ser ela mesma.
É por isso que o Orgulho Gay é especial. É a resistência contra quem não ama a liberdade alheia.
Bernardo Vidigal é Online Education & Training Manager do Students For Liberty.
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