Felipe Camozzato: “é preciso que boas pessoas e com as ideias corretas deem o exemplo para que transformemos nossa realidade”

Felipe Camozzato: “é preciso que boas pessoas e com as ideias corretas deem o exemplo para que transformemos nossa realidade”

Luan Sperandio | 25 de agosto, 2017

Felipe Camozzato é vereador de Porto Alegre. Sempre que tem a oportunidade de fala, faz questão de endossar seus valores liberais para uma capital gaúcha mais livre e próspera.

Camozzato também estará no dia 14 de outubro, na LibertyCon Brasil 2017 no Maksoud Plaza, em São Paulo, falando no painel “Política e liberalismo: este casamento pode ser salvo?”. Saiba mais sobre o evento e garanta agora o seu ingresso, clicando aqui.

Nesta entrevista ele nos conta um pouco de sua trajetória, critica libertários que desprezam o poder do voto e da participação na política e conta suas realizações como vereador neste início de mandato.

SFLB:  Como foi sua preparação para se tornar vereador? Quando teve a ideia de contribuir com a vida pública?

FC: Sou formado em Administração e tenho uns 10 anos de trabalho na iniciativa privada com gestão empresarial e marketing/comercial (fui diretor de empresa de serviços nesta área por cerca de 3 anos).

Para vereador, especificamente, minha preparação foi pequena. Nunca imaginei concorrer a um cargo público e, tampouco, que o faria em 2016. Ao final de 2015 fui selecionado para um curso em Georgetown sobre liderança e lá tive um primeiro contato mais aprofundado com liderança na gestão pública, mas ainda assim regressei ao Brasil em mar/2016 decidido a tocar meu trabalho na empresa. O problema foi combinar com os russos (risos).

Cheguei em plena véspera de votação do impeachment da Dilma, com acampamento acontecendo no parque aqui em Porto Alegre da galera da Banda Loka Liberal (que sou fundador junto com outros amigos). Em seguida abriu o processo seletivo do NOVO para vereadores e, dado que ajudei a montar o partido aqui em Porto Alegre em 2013 e sou voluntário desde então, muita gente insistiu para que eu me inscrevesse. O fiz, mas sem pretensão alguma (confesso que mais para pararem de me insistir que por querer mesmo concorrer).

O problema é que depois de aprovado eu não quis não levar a sério e ser apenas um candidato de votação pequena: se era para botar a cara, queria fazer um bom trabalho e ajudar a eleger algum vereador do NOVO fazendo um bom volume de votos. Eis que acabei eu sendo essa pessoa, tendo a 5ª maior votação em Porto Alegre, dentre mais de 500 candidatos.

Ter topado o desafio e abandonado a empresa que entrei como estagiário em 2011 (com cerca de 5 funcionários) e saí como sócio/diretor (com cerca de 70 funcionários) não foi fácil. A principal razão para eu ter topado foi que estive por muito tempo na rua e na internet reclamando do país e dos políticos, então quando chegou a hora de sair da arquibancada e entrar efetivamente em campo, que motivo eu teria pra justificar a falta de coragem? É preciso que boas pessoas e com as ideias corretas deem o exemplo para que transformemos nossa realidade. Se eu pudesse, de alguma forma, contribuir para isso e servir de inspiração para que mais gente (especialmente melhor que eu) entrasse também, ficaria realizado.

Hoje, vendo o movimento liberal crescendo e mais e mais gente se envolvendo e se colocando à disposição para candidatar-se (tipo o Mateus Bandeira, possível candidato ao governo do RS pelo NOVO, excelente profissional), fico feliz em pensar que tomei uma decisão acertada.

SFLB: Quais suas principais influências dentre os pensadores liberais?

FC: O livro que me abriu a cabeça para o pensamento liberal, inicialmente, foi “Vícios privados, benefícios públicos” do Eduardo Gianetti. Sou filho de servidores e, por muito tempo, tive contato profundo com a militância do PT e com as ideias de esquerda. Na graduação em Administração acabei ganhando As Seis Lições, do Mises, em um Fórum da Liberdade. Dali em diante, comecei a devorar artigos no site do Instituto Mises e baixar os PDFs. Acho que Ayn Rand, Bastiat, Mises e Hayek são minhas principais influências. Acompanhei bastante, no passado, o Rodrigo Constantino e, também, os vídeos de Milton Friedman. Ano passado densifiquei um pouco mais com leituras de Rothbard, Menger, Hazlitt e Walter Block.

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SFLB: Qual foi a maior dificuldade durante a campanha? A população de Porto Alegre tem conseguido assimilar bem as ideias da liberdade?

FC: Acho que a inexperiência. Não sabia o que realmente fazia a diferença para me focar durante a campanha, onde investir mais meu tempo e dinheiro. Me parece que a população está cada vez assimilando melhor as ideias sim, e existia uma demanda reprimida pelas ideias. Ao mesmo tempo, noto que muita gente está descobrindo estas ideias e se aprofundando a partir do acompanhamento do meu mandato.

SFLB: Como está a situação das contas públicas de Porto Alegre?

FC: Muito mal, como tipicamente vemos por aí. Problema grave de fluxo de caixa, muitos compromissos honrados sem a devida análise de prioridades e, obviamente, recursos muito mal empregados e em excesso nas mãos da prefeitura (o que acaba por criar o péssimo hábito da mesma e dos legisladores de destinar “verba” para tudo e todos, sem uma lógica apropriada de impacto das políticas públicas implementadas).

SFLB: Desde o início de seu mandato, quais as principais medidas que conseguiu implementar?

FC: Sendo 1 vereador dentre 36, é difícil rapidamente conseguir implementar coisas. Meu foco de atuação tem sido Empreendedorismo (tempo de abertura e burocracia para empresas), Desburocratização (revogações e simplificações que permitam melhor qualidade de vida) e Segurança (estamos com índices altíssimos de violência comparados às demais capitais brasileiras e, mesmo sendo uma área com pouca autonomia, precisamos melhorar as ações relativas ao tema no município). Além destes, estou fazendo valer meu tempo de fala em plenário e a visibilidade das redes para representar nossas ideias e valores e, também, aproximar as pessoas do dia a dia da Câmara.

O que eu destacaria: sou o vereador mais econômico da Câmara de POA nos primeiros 6 meses, já protocolei 7 revogações de lei, ajudei a revogar outra, montei uma Frente Parlamentar para debater empreendedorismo e desburocratização e já conseguimos identificar problemas e gargalos com relação à Food Trucks, coleta de lixo, transporte público, horário de funcionamento de estabelecimentos e fiscalização de atuação. Além disso, geralmente sou bastante combativo aos projetos estatistas e ajudo a torná-los mais aprazíveis (fiz emendas em alguns), ou então a derrubá-los nas votações.

Conseguimos dar suporte à maior autonomia e investimentos na Guarda Municipal, fui relator do plano plurianual (influenciando nos programas e recursos que serão destinados ao executivo) e fiz o combate pela redução de secretarias, ajudando com meu voto e humilde articulação a reduzir de 32 para 15, reformar parcialmente a previdência do município e a reduzir despesas com cargos comissionados no executivo.

SFLB: Quais os principais problemas que você vê dentro do legislativo municipal?

FC: A autonomia do legislativo municipal é pequena, então acaba-se legislando muito sobre temas de pouco impacto/relevância na cidade. Perdemos muito tempo e dinheiro com honrarias, datas comemorativas, debates sobre assuntos ideológicos que a esquerda traz à plenário para “jogar para sua torcida”. No restante, ainda há um entendimento generalizado de que o estado tem que ter um papel de cuidar e prover às pessoas, o que torna comum as situações onde precisamos votar projetos que impõe novos custos ou restrições ao dia a dia dos negócios ou dos pagadores de impostos da cidade. Nossas ideias ainda precisam ser mais conhecidas pelos ocupantes do legislativo (acredito que em todo o Brasil), e isso passa por estarmos representados nos locais, e sendo atuantes (falando, propondo, criticando, etc.).

SFLB: O que você diria para os muitos libertários que não acreditam que o voto faça alguma diferença na política?

FC: Diria que o PSOL, PCdoB, PT e semelhantes ficam felizes a cada vez que veem estas declarações. A questão é: por mais que seja muito pequeno o impacto de somente um voto, de um lado tem gente que vai votar em massa para querer ditar como devemos viver as nossas vidas, e do outro temos a chance de aceitar sermos controlados passivamente ou tentarmos ter nossa voz ouvida. Escolher não votar e votar em quem não tem respeito pela liberdade alheia, pra mim, dá no mesmo. Muitas vezes a justificativa para não votar reside em não querer legitimar o estado ou este sistema.

Bom, deixemos a ingenuidade de lado né? Votando ou não, o estado esta aí e o sistema está dado. Então, se você não pretende sair deste país, você prefere colocar uma pulga pra incomodar o cachorro (estado) enquanto ele almoça nossas liberdades, ou prefere deixá-lo em paz até ele lamber a tigela? Eu prefiro a pulga.

Por último, é preciso que entendamos que a mesma lógica que nos faz refletir sobre indivíduos e coletivos seja aplicada à análise do estado. Não existe “o estado”, um coletivo abstrato que pensa e age de maneira homogênea, linear, pre-determinada. Ali estão indivíduos dotados de razão, valores e crenças. Portanto, quanto mais gente com as nossas ideias dentro do estado, e com seus diferentes perfis de atuação e capacidades, maior será o respeito à liberdade – ou pelo menos menor será a agressão à ela.


Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected]

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