Luan Sperandio | 01 de março, 2017
Foto por Mountain, via Wikipedia Commons
Felipe Lungov, 34, é economista e responsável pelo projeto Academia Liberalismo Econômico. Nesta entrevista, ele nos conta um pouco de sua percepção sobre as mudanças que o país tem vivido e das contribuições de seu projeto.
Students For Liberty Brasil: Qual a origem da Academia Liberalismo Econômico?
Felipe Lungov: Antes da Academia Liberalismo Econômico, eu já havia participado em outros projetos liberais, mas sempre saí com a frustração de achar que eles não estavam atuando de forma eficaz. Decidi fundar a ALE com aquela mentalidade de “Se o projeto for bom, vai atrair mais gente. Se não for, minhas críticas aos anteriores estavam equivocadas e eles seguirão em frente”. Acredito muito nesse conceito de livre mercado de iniciativas liberais, em que o próprio público vai escolher aqueles que crescem mais. Sempre incentivo as pessoas a criarem novos projetos concorrentes do nosso.
Nosso primeiro artigo foi publicado em abril de 2015. Hoje, quase dois anos depois, temos sete voluntários e estamos conversando com mais algumas pessoas. Esse número deve aumentar em breve.
SFLB: Quais atividades foram desenvolvidas de lá para cá?
FL: No momento, toda a nossa atuação é online por ter melhor relação alcance / custo financeiro. Então temos o nosso blog, que já conta com mais de 60 artigos, nosso canal no YouTube, com mais de 70 vídeos, nossa página no Facebook, com mais de 30 mil curtidas, nosso canal no Telegram com mais de 100 membros, e nosso canal mais novo que é o perfil no Twitter, que ainda estamos aprendendo a usar da melhor forma.
SFLB: Dentro de sua missão que é ensinar economia para o público em geral, a organização pretende organizar eventos presenciais e promover cursos online?
FL: Sim, sem dúvida. As duas coisas. Queremos muito ir nas escolas, conversar com os estudantes, desde cedo colocar um pouco de conhecimento econômico para contrastar com toda a doutrinação que todos nós recebemos e poucos de nós percebemos, o quanto aprendemos falsos conceitos econômicos nas aulas de história.
Temos também nossa lista recomendada de material de estudo, e essa é uma das sessões mais visitadas do nosso site. Queremos oferecer cursos de leitura assistida desses livros, em que o aluno ao terminar cada capítulo o discutirá com um orientador nosso. Acredito que esse modelo fomentaria o início de muitos novos projetos liberais, então teria um impacto muito positivo e até difícil de dimensionar.
Temos muitas ideias do que fazer, coisas alinhadas com nosso objetivo. Fazemos aquilo que é possível com o que temos de recursos financeiros e humanos no momento. Estamos nos estruturando, e dando alguns passos adiante. Nos próximos meses devemos publicar nosso primeiro vídeo próprio, por exemplo. Também gostaríamos de fazer grandes eventos, entrar em outros canais online e aproveitar melhor os que já temos.
SFLB: Por que para os leigos a economia é algo relegado a apenas profissionais da área, e coisas simples como as finanças pessoais se tornam um verdadeiro pesadelo, a ponto de mais da metade das famílias brasileiras estarem endividadas?
FL: Essa é uma questão importantíssima. O iluminismo foi o período na história em que os grandes filósofos deixaram para trás antigas superstições sobre fenômenos humanos e naturais em favor de explicações científicas. Foi o período em que realmente se entendeu por que as coisas caem no chão, a função de muitos dos nossos órgãos internos, como os astros estão dispostos no espaço, o que faz com que algumas regiões do mundo vivam em maior prosperidade do que outras, e uma série de outras questões interessantes.
Mais para frente, quando o ensino escolar foi estendido a quase toda a população, diversas dessas ciências foram incluídas na grade curricular, mas a economia não foi. Não sei dizer por quê, só posso imaginar que se pensou que o importante seria os governantes saberem economia, mas a população não teria o que fazer com esse conhecimento. A questão é que em países democráticos, quem escolhe os governantes é a população, e quando seu conhecimento sobre economia é apenas intuitivo, pré-iluminismo, isso abre portas para o populismo, que é o que vemos hoje no mundo inteiro.
Quando digo isso, algumas pessoas acham que estou exagerando. Mas eu já viajei muito pelo Brasil, até pelas áreas mais remotas e inacessíveis. Também já cruzei a África por terra, passando por regiões muito pobres. Já conversei com muita gente que não recebeu a mesma educação que eu, você, e muito provavelmente a pessoa que nos lê tivemos em matemática, história, biologia, etc. E percebi que seus conhecimentos nessas áreas são aqueles meramente intuitivos do pré-iluminismo. Está com dor nas costas? O “médico” da tribo então diz que há uma erva que se for queimada e sua fumaça inalada, cura a dor.
Nós aqui sabemos que dor nas costas pode vir de uma série de causas, de má postura a hérnia de disco, e para cada uma há uma cura apropriada. Mas só sabemos isso porque temos noções mínimas de como funciona o nosso corpo. Vejo muito claramente que o médico que propõe esse tipo de solução é o político que propõe tributar bens importados para gerar empregos internos. Ambos dependem fundamentalmente de seu público ter um conhecimento meramente intuitivo do assunto. A vacina contra o populismo econômico é, portanto, ensinar economia à população. Isso rompe o poder do populista.
SFLB: Quem compõe a equipe da ALE? É possível se voluntariar para o projeto?
FL: Hoje somos eu, a Joyce, Luís, Alexandre, Leonardo, o Walafy e a Giovana. Queremos também fazer uma sessão de “Quem somos” no site. Espero que a gente consiga se dedicar a isso em breve. E sim, estamos sempre procurando mais voluntários para nos ajudar. Cada novo voluntário que entra, é mais material que é produzido e publicado.
Apesar de nosso material ser voltado a elevar o conhecimento e provocar reflexão na população, nosso trabalho do dia-a-dia é bastante operacional: traduzir, sincronizar legendas, procurar erros de português, etc. Além disso, é preciso ter tempo para colaborar. A Academia é um grupo de trabalho, não um grupo de discussão. Claro que a discussão é inerente ao trabalho, mas não pode ficar só nisso.
SFLB: Qual legado vocês pretendem deixar para o Brasil?
FL: Acreditamos que uma população que entenda de economia não vota nos Acreditamos que uma população que entenda de economia não vota nos políticos que se elegem hoje. Dizem que cortes de gastos públicos é uma política impopular. Eu discordo. Cortes de gastos públicos são impopulares quando a população não percebe que se trata do seu dinheiro sendo gasto por outra pessoa. Eu quando saí da escola apoiava a existência de empresas estatais, agências reguladoras, e a própria ideia de que o Estado deve promover o crescimento econômico.
Foi um processo longo entender por que essas ideias são equivocadas, mas acredito que esse processo está à disposição de qualquer um. O trabalho da Academia é facilitar esse processo, torná-lo mais fácil, rápido e amplo. Seus frutos, a prosperidade para todos, estão logo adiante. Nos orgulhamos de fazer parte de uma constelação de projetos liberais que atuam no Brasil, como também o SFLB, e que estão (ainda de maneira muito incipiente, é verdade) revolucionando a maneira do brasileiro pensar economia e política.
Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].