Ivanildo Santos Terceiro | 27 de abril de 2017
Anunciada pessoalmente por Nicolás Maduro em julho de 2015, a Operação de Libertação do Povo (OLP) deveria combater o alto grau de violência na República Bolivariana da Venezuela. A ideia era que o envolvimento do Exército e a militarização do conflito dariam fim a guerra urbana que a pátria de Bolívar enfrenta.
O tiro, infelizmente, saiu pela culatrada. De acordo com o jornal El País, “A OLP é acusada de dizimar os bairros pobres da Venezuela. ”
Algo que Petra Pérez sabe muito bem. Acompanha de dezenas de mães, Pérez perambulou durante 43 dias em busca do seu filho e de outros rapazes . A única informação que o grupo detinha é que todos eles teriam sido presos em uma das batidas da OLP.
A busca só teve fim quando as autoridades policiais encontraram uma dezena de cadáveres mutilados em duas valas comuns.
Em relato ao El País, María Isabel Silva, mãe de um dos assassinados, afirma que seu filho morreu por ser pobre. “Os militares pensam que nos bairros pobres as pessoas não têm direitos por serem negras, camponesas ou mulheres sem estudos. Por isso matam sem remorso.”
O fato do Judiciário venezuelano ser um mero puxadinho do Executivo torna os abusos ainda piores, dado que suas vítimas simplesmente não têm a quem recorrer. Graças a isso, de acordo com a Human Rights Watch e a Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea), “os grupos de elite que atuam nessas operações de segurança assassinaram mais de 750 suspeitos, realizaram 15.000 prisões arbitrárias e 18.000 incursões em moradias de bairros pobres de diferentes cidades venezuelanas desde o início do programa”.
A ofensiva do governo ainda incluiu a demolição de quase mil casas e expropriação de outras 1,4 mil residências construídas pelo programa Missão Moradia do governo.
Hoje, os venezuelanos pobres se sentem intimidados por criminosos que estão dentro e fora do governo, que insiste em não olhar para o próprio umbigo.
Tal qual o Brasil, a Venezuela criminaliza o tráfico de drogas, o concentrando nas mãos de barões e cartéis que, por diversas vezes, tem conexões com o governo, inclusive no Exército. De fato, a caótica situação do país abriu um novo flanco para os criminosos: o tráfico de comida controlado por oficiais militares.
Não obstante, o governo venezuelano tem leis restritivas para o porte e posse de armas, curiosamente relaxadas para os apoiadores do regime, que formam verdadeiras milícias dispostas a aterrorizar a vida dos opositores de Nicolás Maduro.
Como em nosso país, a violência crescente está fazendo o governo se sentir confortável para ferir garantias e direitos fundamentais, com a desculpa que a proteção contra abusos estatais são a causa da violência. Ledo engano. Desrespeitá-los apenas torna os cidadãos vítimas de um novo modelo de criminosos, os que vestem farda.
Ivanildo Santos Terceiro é Coordenador de Comunicações do Students For Liberty Brasil.
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