Zora Neale Hurston: Negra, Mulher, Autora e Libertária

Zora Neale Hurston: Negra, Mulher, Autora, e Libertária

Alice Salles | 13 de Junho, 2017

Quando Alice Walker decidiu comparar o posicionamento político libertário de Zora Neale Hurston com o alcoolismo de Bessie Smith ao dizer que o público deveria julgá-la pela sua arte e não pelo seu posicionamento político, Walker fez uma declaração importante: negros não devem e nem podem assumir qualquer posição individualista de oposição a um governo autoritário e intervencionista.

Para a escritora Alice Walker, nós devemos apenas apreciar Hurston por sua obra literária e esquecer que em algum momento da história, uma mulher negra teve a audácia de defender a livre associação, a não-intervenção do governo federal em assuntos que dizem respeito apenas aos estados. Em outras palavras, devemos esquecer que Hurston manteve qualquer posicionamento liberal e que se colocou contra o imperialismo e a expansão da presença militar Norte-Americana em outros países, contanto que lembremos que ela escrevia romances.

Nora é um problema para a agenda daqueles que querem coloca-la junto dos demais autores e artistas negros de sua geração como W.E.B. DuBois. Muitos da época eram grandes defensores de políticas de privilégios e achavam que a solução para a sua “classe” seria retratar negros como o proletariado que tem como objetivos “metas irrealizáveis no âmbito da América Capitalista.”

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Como artista, Zora Neale Hurston consagrou-se como a autora de Seus Olhos Viam Deus, escolhido pela revista Time como um dos 100 melhores livros escritos na língua inglesa desde 1923. A diferença entre Hurston e os demais autores negros da sua época época era marcante: para Zora, o que importava era a história da celebração do indivíduo e das conquistas da comunidade negra. Para outros autores, o importante era retratar a vitimização do negro e sua dificuldade em ascender socialmente.

Para conseguir uma educação, Hurston precisou mentir sobre sua idade, já que seu pai havia parado de pagar o internato para onde ela foi mandada depois que sua mãe faleceu. Em 1918, Zora começou seus estudos na Howard University onde ela ajudou a fundar um jornal e se formar em línguas. Desde então, Zora não parou de escrever.

Em 1925, Hurston conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade de Columbia onde ela viria a ser a única estudante negra. Em 1928, ela se formou em antropologia.

Conhecida como a “conservadora negra favorita da América,” Hurston foi de fato contra o New Deal de Franklin Roosevelt por achar que a política faria com que negros e todos os demais cidadãos do país fossem acabar dependentes do governo. Hurston argumentava que a dependência acabaria colocando uma grande concentração de poder nas mãos de políticos.

Ela realmente não gostava da ideia de um governo federal robusto por saber muito bem quais seriam as consequências.

Ao posicionar-se contra a decisão da corte no caso Brown contra o Conselho de Educação, Hurston escreveu uma carta para o editor da Orlando Sentinel explicando sua posição por conta da implicação anticonstitucional da decisão judicial, já que ela teria infringido direitos protegidos pela constituição ao forçar universidades particulares a seguir normas estabelecidas pelo governo federal. Em sua carta, Zora pergunta: “com que satisfação poderia alguém que não quer associar-se a uma pessoa como eu encarar tal ordem judicial?

Hurston sabia que relações entre indivíduos devem ser voluntárias e muito provavelmente teria concordado com F. A. Hayek quando ele afirmou em A Arrogância Fatal que “ordens geradas sem terem sido planejadas superam muitos dos planos que homens inventam conscientemente.”

Quando Harry S. Truman jogou a bomba atômica no Japão, Zora Naele Hurston acusou o Departamento do Estado de usar “nossas armas, dinheiro, e o sangue de milhões” para “forçar a presença de Ingleses, Franceses e Holandeses no Japão, onde eles não são bem-vindos.” Depois da tragédia, Hurston chamou Truman de o açougueiro da Ásia.

Por conta de seu posicionamento político como oponente do intervencionismo, defensora da restrição do poder governamental nas mãos de homens e defensora do cumprimento de leis que protegem o indivíduo do Estado, Zora Neale Hurston caiu no esquecimento. Nos últimos anos de sua vida, a autora outrora celebrada e famosa pagava suas contas trabalhando como professora substituta, empregada doméstica e bibliotecária até sua morte em 1960.

No dia do seu aniversário, 7 de Janeiro, o Google a homenageou com um doodle:


Alice Salles colaborou com o Students For Liberty Brasil (SFLB) neste artigo. 

Este artigo não necessariamente representa a opinião do SFLB. O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, basta submeter o seu artigo neste formulário: http://studentsforliberty.org/blog/Enviar

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