Cecília Lopes | 8 de março, 2018
O Dia Internacional da Mulher sempre gera acalentadas reflexões. Para alguns, é momento de presentear amigas, conhecidas e companheiras; para outros, é dia de comemorar os avanços políticos e sociais alcançados pelas mulheres no Ocidente e lembrar que ainda temos muito trabalho a fazer.
Seja como for, é importante que liberais e libertários conheçam e homenageiem – não só nessa data – grandes mulheres, feministas libertárias, que revolucionaram suas comunidades através da luta pelo reconhecimento dos seus direitos, liberdade e justiça.
Você pode fazer parte desse time, escrever uma história diferente do Brasil e fazer o futuro ser livre, é só se tornar uma liderança do SFLB.
Vamos conhecer algumas delas:
“A liberdade é a mãe da virtude; se as mulheres forem naturalmente escravas, e não puderem respirar o revigorante ar da liberdade, então elas deverão ser eternamente desprezadas como seres exóticos, como belas falhas da natureza” – Mary Wollstonecraft
Mary foi, acima de tudo, uma grande individualista. Nascida em Londres em 1759, escreveu livros sobre educação, liberdade e feminismo. Ela defendia que homens e mulheres deveriam receber o mesmo tipo de educação, contrapondo ao pensamento coletivista de Rousseau, que explicitamente sustentou que a educação feminina deveria ter como propósito único ensinar a servir ao marido.
Amiga do liberal Thomas Paine, ela acompanhou a Revolução Francesa perto, ao lado dos Girondinos. No entanto, quando o autoritarismo Jacobino prevaleceu e a luta por um tratamento igualitário entre os sexos foi esquecida pelos revolucionários, Mary não apenas abandonou o movimento como escreveu sua mais importante obra: Uma Reivindicação pelos Direitos da Mulher, onde sustenta que mulheres são plenamente capazes de viver e empreender sem a intervenção masculina ou estatal, pleiteando em consequência o direito ao voto.
Talvez o valor mais importante que Mary Wollstonecraft tenha a nos ensinar seja a persistência. Durante toda sua vida foi hostilizada e odiada por defender que uma sociedade na qual somente os homens têm liberdade não é uma sociedade plenamente livre. Sua história também nos faz lembrar das verdadeiras raízes do feminismo: a Vida, a Liberdade e a Propriedade.
Nascida em 7 de Maio de 1748 e tendo vivido na mesma época que Mary Wollstonecraft, Olympe – cujo verdadeiro nome era Marie Gouze – foi uma liberal abolicionista que escreveu peças, artigos e ensaios defendendo a democracia e a individualidade da mulher.
Quando foi deflagrada a Revolução Francesa, Olympe prontamente a abraçou. No entanto, com a vitória Jacobina, as condenações à guilhotina e a negligência para com a causa das mulheres, ela prontamente deixou de apoiá-la.
Em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão, que negava às mulheres direitos políticos e igualdade de tratamento, escreveu Declaração dos Direitos da Mulher e Cidadã, e, por conta disso, foi guilhotinada.
A história de Olympe de Gouges inspira coragem. Ela viveu e morreu em nome da liberdade e dos direitos individuais. Infelizmente, são poucos os liberais que atualmente conhecem sua luta contra o autoritarismo.
“Eu sou uma individualista. (…) Eu faço a minha guerra contra o privilégio e a autoridade, mediante ao direito de propriedade, o direito real que é próprio do indivíduo. (…) Eu mantenho que a concorrência de uma forma ou outra sempre vai existir, e que é altamente desejável que exista.” – Voltairine de Cleyre
Voltairine de Cleyre foi uma grande anarquista norte-americana que, apesar de ter mudado de pensamento ao longo dos anos, definiu-se durante a maior parte de sua vida como individualista e libertária.
Inspirada por Thomas Paine, Mary Wollstonecraft e Henry David Thoreau, de Cleyre escreveu diversos artigos sobre liberdade, autoridade, opressão estatal e direito à propriedade. Também conhecida pela excelente oratória, é por muitos considerada a mais talentosa escritora do meio anarquista nos Estados Unidos.
Vinda de uma família abolicionista e constante vítima da coerção estatal e negação de direitos apenas por ser mulher – seu filho lhe foi tirado por não querer casar-se com o tutor da criança – Voltairine de Cleyre dedicou seus 45 anos de vida em prol da liberdade do indivíduo, e até hoje encanta libertários e anarquistas das mais variadas vertentes.
Harriet foi uma filósofa, ativista pelos direitos das mulheres e esposa do liberal John Stuart Mill. Apesar de não possuir nenhum livro de sua autoria, colaborou ativamente com os escritos de Mill sobre igualdade de gênero. A Sujeição das Mulheres, obra comumente creditada apenas ao marido, contou com sua participação e com a da filha do casal para finalizá-lo, após sua morte.
Membro da Sociedade Kesington, a primeira a redigir uma petição exigindo o sufrágio feminino, Harriet escreveu curtos artigos e poemas sobre tolerância, liberdade econômica e opressão de gênero, que podem ser encontrados no livro The Complete Works of Harriet Taylor Mill.
Em diversas obras de Stuart Mill é possível encontrar menções e agradecimentos a Harriet, que sempre o inspirou e participou da construção de sua vasta e admirável obra.
Nascida Dionísia Gonçalves Pinto, Nísia Floresta foi uma grande educadora, abolicionista e individualista brasileira, considerada por muitos a precursora do feminismo e da luta pelos direitos da mulher na América Latina.
Nascida no Rio Grande do Norte em 1810, Nísia não apenas defendeu uma educação igualitária entre os sexos como realizou uma tradução livre, adicionando suas próprias conclusões, da obra Reivindicação dos Direitos das Mulheres de Mary Wollstonecraft, a qual chamou de Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens.
Nísia Floresta é pioneira na luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres, sempre apresentando um enfoque individualista sobre o tema. Será coincidência que a primeira prefeita da América Latina tenha sido eleita no Rio Grande do Norte, seu estado?
Considerada uma das mães do libertarianismo moderno, Rose Wilder Lane foi ensaísta, filósofa e escritora freelancer, dedicando sua vida a defender os direitos naturais contra a tirania e a liberdade individual.
Conceituou-se como jornalista em uma época em que os direitos das mulheres ainda eram negligenciados, passando por diversas dificuldades para calcar sua carreira.
Escreveu The Discovery of Freedom: Man’s Struggle Against Authority, obra que exalta o poder do indivíduo de produzir e empreender em detrimento à coerção estatal.
Posteriormente, tornou-se correspondente de guerra, indo até mesmo ao Vietnã. Seu legado para o movimento libertário no mundo inteiro é incontestável, de forma que lê-la e conhece-la é crucial para um bom entendimento desse espectro ideológico.
Nascida em 24 de junho de 1893, Suzanne La Follette foi uma escritora, jornalista, libertária e feminista que lutou ativamente pelo fim da opressão estatal nos âmbitos econômicos e individuais.
Além de ter publicado diversos artigos pela revista The Freeman, La Follette foi altamente engajada na League For Equal Oportunity, organização feminista que visava erradicar o sexismo por vias individuais, opondo-se à intervenção estatal para resolver as problemáticas de gênero.
Apesar de muito ativa no movimento libertário durante a primeira metade do século XX, seu legado é injustamente ignorado pela maioria. Suzanne La Follette é, antes de tudo, uma figura que transmite dinamismo e inovação em um ambiente que não raro negligencia a causa das mulheres.
“A tendência do estado de bem-estar social moderno é fazer um completo sacrifício dos direitos individuais não aos direitos, mas aos interesses hipotéticos de outros; e para cada indivíduo que por ventura se beneficie pelo sacrifício, há outro que sofre em prol dele.” – Suzanne La Follette
Figura central para o entendimento da história do libertarianismo norte-americano, Joan foi ativista política, jornalista e editora.
Amiga íntima de Ayn Rand, ajudou a fundar o Libertarian Party em 1970 e publicou artigos sobre feminismo nas revistas Libertarian Review, Reason e The Freeman; além disso, tornou-se comentarista semanal do programa de rádio Byline, realizado em parceria com o Cato Institute.
Ao final de sua vida, concentrou seu ativismo em torno do feminismo libertário, tendo trabalhado na Associação das Feministas Libertárias (ALF) e na Feminists For Free Expression.
Joan foi de importante valia para a expansão do movimento libertário nos Estados Unidos, servindo até hoje de inspiração para inúmeras lideranças, como Sharon Presley. Morreu em 2015 aos 78 anos, deixando uma importante mensagem: de que a liberdade deve atingir a todos, e não apenas os segmentos mais privilegiados da sociedade; caso contrário, ela não é plena.
Infelizmente, a opressão de gênero ainda se faz presente em boa parte do mundo e reverbera em nossa vida política. Ainda assim, apesar de termos proporcionalmente menos mulheres engajadas nas causas liberais, seu excelente trabalho é inegável. Sem essas oito figuras que com maestria inegável balançaram os alicerces socialistas e conservadores, haveria uma irreparável lacuna no movimento. No dia da mulher, e em todos os outros, elas não mais serão esquecidas!
Sabemos que a luta por mais liberdade e individualidade para as mulheres está longe de acabar. Homenagear grandes feministas libertárias que construíram um sólido legado nessa luta, portanto, é essencial. Se você quiser saber mais sobre o feminismo libertário, clique aqui e leia um artigo completo explicando a diferença deste tipo de feminismo para o comum.
Cecília Lopes é coordenadora local do Students For Liberty Brasil no Rio de Janeiro.
Este artigo não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected].