Pedro Goulart do Canal Bom Senso: “Quanto mais regulado é o setor, menos inovações teremos e mais travada fica a economia”

Pedro Goulart do Canal Bom senso: “Quanto mais regulado é o setor, menos inovações teremos e mais travada fica a economia”

Luan Sperandio | 07 de julho, 2017

Pedro Goulart, 27, é formado em administração de empresas e um dos responsáveis pelo Canal Bom Senso, que tem mais de 34 mil inscritos no Youtube. Este ano foi um dos selecionados para participar do Mises Summer School, imersão de estudos da Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil.

Nesta entrevista ele nos conta sobre suas influências, os projetos do canal e suas opiniões sobre temas correntemente abordados, como protecionismo, empreendedorismo e a difusão das ideias da liberdade.

SFLB: Como surgiu a ideia do canal do Bom Senso?

PG: O Canal surgiu em 2014, criado pelos meus colegas Augusto, que também apresenta vídeos, e o Guilherme, que é responsável pela edição. A ideia foi criar um canal de opinião mostrando uma visão liberal para servir de alternativa às tradicionais “esquerda” e “direita”, além disso queríamos trazer mais informações sobre novos projetos de lei, utilidade pública, etc.

Em fevereiro de 2016 fui convidado à fazer parte do canal e abordar os temas ligados à economia com a intenção de explicar noções básicas, como oferta e demanda, como funciona o sistema financeiro, juros, e como o mercado faz parte do nosso cotidiano. Com a minha chegada o canal ficou com um viés mais libertário.

SFLB: Quais suas principais influências libertárias?

PG: Descobri o libertarianismo em 2014, logo depois de me formar. Assim como muita gente, meu primeiro contato foi por meio do site do Instituto Mises Brasil, lendo artigos compartilhados nas redes sociais.

Comecei a me interessar mais pelo assunto, e me perguntava como eu nunca tinha sequer ouvido falar de Escola Austríaca na faculdade. O primeiro livro que eu li foi ‘O Manifesto Libertário’, do Rothbard, e aquilo foi como um despertar, virou uma chave dentro de mim que me fez ver o mundo de uma maneira completamente diferente. Daquele momento em diante, comecei a consumir tudo que encontrava sobre EA. Particularmente, gosto muito da abordagem otimista do Jeffrey Tucker, os textos e palestras dele são simplesmente sensacionais.  Além disso acompanhava os canais no YouTube do Stefan Molyneux, Daniel Fraga,  Raphael Lima, etc. Dou muito crédito da minha formação ao IMB e acredito que todos no movimento liberal/libertário brasileiro devem, de alguma forma, pelo trabalho deles.

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SFLB: Um de seus vídeos mais notáveis é o que critica Ciro Gomes e seu posicionamento sobre a Escola Austríaca. Você tem expectativa da classe política e acadêmica terem uma postura mais receptiva as ideias dessa escola econômica?

PG: Absolutamente. Acredito muito na máxima que diz que nada é mais poderoso do que uma ideia cuja a hora chegou. As ideias liberais vão influenciar muito o espectro político nacional nos próximos anos, o Partido Novo e o LIVRES crescem muito, galgados principalmente na tendência de renovação política que se desenha graças à operação Lava Jato. Os remanescentes também não são bobos, políticos sentem o cheiro de votos, eles percebem para onde as ideias estão indo, e se movem de acordo. A EA tende a crescer junto com todo o liberalismo.

Em contra-partida acredito que a esquerda mais radical tende a se enfraquecer daqui para frente.
No aspecto acadêmico o mercado fará seu trabalho, mais e mais faculdades e universidades verão o crescimento da demanda por Escola Austríaca e vislumbrarão possibilidades de lucro. Aumentando o número de cursos disponíveis e assim o número de especialistas na área, e por consequência a influência na academia. É questão de tempo.

SFLB: Um grande problema brasileiro e que impacta negativamente em nossa produtividade é o protecionismo. Como enfrentar grupos de pressão e diminuir as nossas barreiras tarifárias?

PG: Este é um problema muito grave, sintoma do agigantamento do Estado. Os benefícios dos grupos de pressão são concentrados, então eles tem todo o incentivo para ir à Brasília fazer lobby e pressionar deputados, senadores e ministros para conquistar sua reserva de mercado e criar barreiras para novos competidores. Tudo travestido de proteção ao emprego, à indústria nacional, a valorização do que é “nossa riqueza”. Todas essas falácias são repetidas incansavelmente tanto pela classe política, quanto pelos empresários corporativistas, os maiores beneficiados por este jogo sem fim. A única maneira de quebrar este ciclo é por intermédio da batalha de ideias e do ativismo social e político, expondo estas falácias por meio da lógica. E esta é justamente a intenção do nosso canal: Quanto mais pessoas conseguirem enxergar a realidade como ela é, mais difícil será manter o status quo.

SFLB: O que mais atrapalha o empreendedor no Brasil na sua opinião?

PG: O Estado, claro! Quantas pessoas com ideias maravilhosas que poderiam estar melhorando a vida de todos nós, mas são impedidas por barreiras burocráticas? Imagine o caso dos Correios, que é um monopólio estabelecido por lei. Quantas soluções para entregas de documentos e correspondências poderiam existir, diminuindo custos, aumentando a agilidade e a segurança, se houvesse competição? Quanto mais regulado é o setor, menos inovações teremos e mais travada fica a economia. Crescimento, aumento de produtividade e geração de riquezas é o caminho natural da sociedade, basta que o empreendedor seja livre para trabalhar, e o consumidor livre para escolher.

SFLB: Quais os projetos do canal para 2017?

Devido a razões pessoais e de trabalho de cada um de nós, agora nos encontramos separados. Enquanto eu permaneço no Rio Grande do Sul, o Augusto está em São Paulo e o Guilherme em Santa Catarina, a distância acabou dificultando um pouco nosso trabalho. Assim, uma alternativa legal de conteúdo que criamos foi o nosso podcast. Ele é gravado e transmitido ao vivo pelo YouTube normalmente quintas-feiras às 22 horas, tem uma duração média de 1 hora e meia e depois é disponibilizado para download.

Nele, nós três comentamos os últimos fatos políticos e econômicos. Falamos sério, ficamos bravos, mas também temos um toque de humor, como no quadro “Canetas que ainda irão curar o câncer” que está se transformando até em uma página de Facebook, onde selecionamos leis esdrúxulas que nossos “queridos representantes”, que não nos representam, tentam criar para resolver todos os problemas do mundo. Temos alguns convidados de vez em quando, e mais recentemente tivemos o primeiro podcast em formato de debate, que teve como tema “propriedade intelectual”. A nossa intenção é continuar a desenvolver o podcast, além de voltar a postar vídeos regularmente. Ainda temos muito o que fazer pela liberdade!


Esta entrevista não necessariamente representa a opinião do Students For Liberty Brasil (SFLB). O SFLB tem o compromisso de ampliar as discussões sobre a liberdade, representando uma miríade de opiniões. Se você é um estudante interessado em apresentar sua perspectiva neste blog, envie um email para [email protected]

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